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ONGs querem participar da gestão de recursos naturais em Moçambique

24 de junho de 2011

Sectores reconhecem que governo ofereceu espaço em comité que avalia gestão do sector, mas falta participação. Moçambique responde a 14 dos 18 critérios de adesão à Iniciativa de Transparência na Indústria Extractiva.

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Luta por transparência: ITIE foi sugerida na Conferência do Meio Ambiente na África do Sul em 2002Foto: AP

A sociedade civil moçambicana deu os primeiros passos para o estabelecimento de uma plataforma sobre Recursos Naturais e Indústria Extractiva. A ideia é se aproximar ainda mais da Iniciativa de Transparência na Indústria Extractiva (ITIE), uma acção internacional, sugerida pelo ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair em 2002, na cimeira mundial de Joanesburgo.

Em encontro em Maputo, na quinta-feira (23/6), membros de ONGs reconheceram que, apesar de o governo ter aberto espaço para a participação de organizações no comité de coordenação que tratou da adesão de Moçambique à ITIE, a sociedade civil teve presença muito tímida.

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Jovem trabalha em lixeira em Maputo: carência de gestão de recursos provoca não somente exploração indevida, mas acúmulo de poluiçãoFoto: Friederike Heidenhof

Para os atores não governamentais, ficou claro que uma plataforma poderá unir esforços para assegurar e promover uma gestão transparente, responsável e sustentável dos recursos naturais. O Centro de Integridade Pública (CIP) fez parte do comité governamental de coordenação que produziu o primeiro relatório. Texto contém expediente de pedido de adesão do país ao ITIE.

Reacção insuficiente

O representante do CIP, Tomás Selemane, afirma que até mesmo as entidades ambientalistas tiveram participação fraca no processo. "Este encontro é uma tentativa de aglutinar esforços e juntar diferentes perspectivas sobre esta questão", disse.

João Pereira, do Mecanismo de Apoio à Sociedade Civil, acredita que a plataforma poderá funcionar se tiver recursos humanos e financeiros suficientes. Para ele, somente assim a plataforma terá "uma abordagem profunda na questão dos recursos naturais, abrindo a própria plataforma para o envolvimento das comunidades locais".

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Ex-primeiro-ministro britânico, Tony Blair, apresentou proposta que deu origem à ITIEFoto: AP

As organizações da sociedade civil sofrem críticas de alguns sectores porque não atendem aos chamados do governo a participar em mecanismos como o comité da ITIE. Além disso, não reagem aos resultados, buscando ficar distantes quando estes não são tão positivos.

Pouca participação

Para Pereira, este comportamento teria uma razão específica: a tradicional carência de uma cultura de participação popular. "Grande parte das políticas públicas de Moçambique não é desenhada a partir da vontade e das demandas dos cidadãos, mas de prioridades estabelecidas entre os doadores (internacionais) e o governo", opina.

Ele lembra que muitas destas políticas definidas podem se tornar um desastre para o país. Pereira cita a indústria de caju como exemplo, lembrando que o sector foi afectado negativamente por medidas impostas pelo Banco Mundial, prejudicando a performance económica da região norte de Moçambique.

Resultados recentes da avaliação internacional indicam que Moçambique atendeu a 14 dos 18 critérios impostos para a adesão. Espera-se pela resposta final do Secretariado Internacional do ITIE nos próximos dias.

Autor: Ezequiel Mavota (Maputo)

Edição: Marcio Pessôa / Renate Krieger