ONU apela ao voto livre na República Democrática do Congo
23 de dezembro de 2018As eleições presidenciais, legislativas e provinciais foram marcadas para o próximo domingo, dia 30 de dezembro, naquele que é o maior país da África subsaariana. O sufrágio pode por um ponto final numa crise de dois anos sobre o futuro do Presidente Joseph Kabila.
Na quinta-feira (20.12), a Comissão Nacional Eleitoral Independente (CENI) ordenou o adiamento do pleito, justificando-se com um incêndio nos seus armazéns que terá destruído o material eleitoral.
"Os membros do Conselho de Segurança manifestam esperança de que esse atraso permita a criação de condições favoráveis para que o povo congolês se expresse livremente" a 30 de dezembro, informou em comunicado aquele organismo composto por 15 membros.
O Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) também "pediu a todas as partes que se empenhem de forma pacífica e construtiva no processo eleitoral", para garantir "uma transferência de poder de acordo com a Constituição congolesa e o Acordo de 31 de dezembro de 2016".
Kabila, de 47 anos, deveria ter deixado o cargo no final de 2016, depois de ter atingido o limite máximo de dois mandatos como prevê a Constituição daquele país. No entanto, Kabila manteve-se no cargo mais dois anos, invocando uma cláusula provisória na Constituição.
A prorrogação do pleito por três vezes gerou centenas de protestos, que no entanto têm sido reprimidos de forma sangrenta. Na declaração agora emitida, o Conselho de Segurança reiterou a prontidão da MONUSCO, a missão de manutenção da paz da ONU na RDC, para fornecer apoio na execução do pleito. Porém, Kinshasa já disse por diversas vezes que quer organizar as eleições sem qualquer ajuda financeira ou apoio logístico por parte da União Europeia ou ONU.
País estratégico para os EUA
O novo embaixador dos Estados Unidos (EUA) em Kinshasa disse no sábado (22.12) que um voto presidencial "credível e transparente" na República Democrática do Congo abriria caminho para uma cooperação reforçada com Washington. "Eleições credíveis e transparentes criariam uma oportunidade para novas possibilidades de cooperação entre os nossos dois países", disse Mike Hammer, num comunicado escrito em francês.
A votação "pode representar a primeira transição democrática e pacífica do poder" no país e "os Estados Unidos estão preparados para dar o seu apoio", lê-se na nota que acrescenta que a RDC é um país de "importância estratégica" para os EUA.
O adiamento das eleições na quinta-feira gerou uma onda de protestos na capital e em várias cidades do país, com a população a pedir a saída imediata do poder de Joseph Kabila e a destituição do presidente da Comissão Nacional Eleitoral Independente, Corneille Nangaa.