ONU garante apoio à Guiné Equatorial após ameaça de "golpe"
10 de janeiro de 2018A Organização das Nações Unidas (ONU) assegurou ao Governo da Guiné Equatorial que apoiará os seus "esforços de estabilização", após a alegada tentativa de golpe contra o Presidente Teodoro Obiang, no mês passado.
De visita ao país, o enviado especial da ONU, François Lonseny Fall, disse que tanto a sua organização quanto a União Africana condenam "a tomada inconstitucional de poder" e o "uso da força contra os Estados".
Lonseny Fall encontrou-se com Teodoro Obiang para avaliar a situação e reunir informações sobre a alegada tentativa de golpe, que o Governo diz ter sido financiada por mercenários estrangeiros recrutados pela oposição.
Segundo fontes militares equato-guineenses, a 27 de dezembro, cerca de 40 combatentes do Chade, Sudão e República Centro-Africana, fortemente armados, cruzaram a fronteira dos Camarões com a Guiné Equatorial com a intenção de atacar o Presidente Teodoro Obiang. A polícia camaronesa frustrou, no entanto, a manobra.
O Governo de Obiang também informou que as forças de segurança mataram um "mercenário" e dispersaram a tiros outros que estavam numa floresta na fronteira com os Camarões.
Detenções e tortura
A prisão dos combatentes antecedeu uma série de detenções de pessoas consideradas dissidentes, em todo o país. Há relatos de que mais de 65 cidadãos chadianos estariam sob custódia policial. Além disso, o Governo bloqueou o acesso às redes sociais, incluindo o Facebook e o WhatsApp.
O principal partido da oposição na Guiné Equatorial, os Cidadãos para a Inovação (CI), anunciou que dezenas dos seus apoiantes foram presos e torturados nas últimas semanas, após a suposta tentativa de tomada de poder no país. De acordo com o CI, as forças de segurança nacional "cercaram" a sede do partido por 10 dias, abandonando apenas os seus postos na segunda-feira de manhã (08.01), pouco antes de François Lonseny Fall se encontrar com Obiang em Malabo.
Na semana passada, em entrevista à DW, o coordenador do CI, Mariano Ona, negou que o seu partido tenha tentado um golpe de Estado contra o Presidente equato-guineense, esperando uma intervenção internacional para promover o diálogo no país. Mas o enviado especial da ONU, Lonseny Fall, não se reuniu com a oposição.
Especulações
Teodoro Obiang, o Presidente africano há mais tempo no poder, enfrentou uma série de tentativas de golpe durante quase quatro décadas no cargo.
Em 2004, "mercenários" sul-africanos conspiraram para substituir Teodoro Obiang Nguema, no poder desde 1979, por uma figura mais favorável às empresas. O grupo foi, no entanto, barrado no Zimbabué. O chamado "golpe de Wonga" despertou, na altura, a atenção internacional devido ao apoio de um proeminente empresário britânico, Mark Thatcher, filho da ex-primeira-ministra da Grã-Bretanha, Margaret Thatcher.
Desta vez, especula-se nas redes sociais que a ameaça de golpe poderá ter sido encenada pelo próprio Governo. Outros acreditam numa possível conspiração regional contra o regime de Obiang. Mas o especialista em África do instituto britânico Chatham House, Alex Vines, acha pouco provável.
"Os Camarões, o Chade e o Gabão têm problemas de governação e outros problemas que não são tão diferentes dos que vemos na Guiné Equatorial. Não seria no interesse desses Estados apoiar um golpe para a saída de Obiang do poder", disse Vines à DW, acrescentando que o interesse em realizar um golpe poderia estar "mais relacionado com indivíduos residentes nesses países".
Segundo Vines, há outros motivos para suspeitar de uma tentativa de golpe. "Antes dessa suposta ameaça, houve uma repressão do espaço democrático para debates e discussões na Guiné Equatorial."
Os problemas económicos do país, agravados pelos baixos preços do petróleo no mercado internacional, também aumentaram a tensão. "Ou seja, não fiquei completamente admirado com os relatos de um suposto golpe no final de 2017", afirmou Vines.
Por outro lado, o uso da tentativa de golpe pelo Governo equato-guineense também não supreendeu o analista: "Este é um padrão que vemos na Guiné Equatorial há muitas décadas. Os verdadeiros golpes de Estado e os alegados golpes são usados como uma forma de reprimir a oposição."
O Presidente Obiang escolheu o seu filho, Teodorin Nguema Obiang, como seu possível sucessor. Em 2016, Teodorin Obiang foi nomeado vice-Presidente do país. A tentativa de golpe poderia ainda visar travar a sucessão.
Obiang foi reeleito, em 2016, para um quinto mandato de sete anos, com mais de 90% dos votos. Críticos acusam-no de repressão brutal de adversários, fraude eleitoral e corrupção.