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PAICV busca apoio internacional na Alemanha

Cristiane Vieira Teixeira (Berlim)
23 de novembro de 2018

Convidada pelo SPD alemão, delegação do PAICV participou em Berlim no fórum "Desenvolvimento em Regiões estruturalmente fracas e Educação Cívica". Para a líder do PAICV, o partido encontra-se numa transição geracional.

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Janira Hopffer Almada, neue Präsidentin von PAICV
Foto: DW/N. dos Santos

A presidente do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), Janira Hopffer Almada, chefiou uma delegação que participou, em Berlim, no fórum "Desenvolvimento em Regiões estruturalmente fracas e Educação Cívica", a convite do Partido Social Democrata (SPD) e da Fundação Friedrich Ebert, que terminou esta quinta-feira (22.11).

A visita da delegação do PAICV à Alemanha enquadra-se na ofensiva política internacional da líder do partido, depois de a mesma ter participado, na qualidade de vice-presidente, na última reunião da Presidência da Internacional Socialista (IS), que aconteceu em outubro deste ano, em Nova Iorque. Por outro lado, a deslocação a Berlim da missão do maior partido da oposição em Cabo Verde tinha por objetivo reforçar as relações do Instituto Para Democracia e Progresso (IDP) com a Fundação Friedrich Ebert e conhecer a experiência autárquica/municipal da Alemanha.

A DW África aproveitou a estadia da delegação na capital alemã para uma entrevista com a líder do maior partido da oposição cabo-verdiana, Janira Hopffer Almada.

DW África: Que mais valia leva na bagagem de volta a Cabo Verde desta visita a Berlim?

Janira Hopffer Almada (JHA): Foi uma grande oportunidade para podermos conhecer projetos, programas, iniciativas, e ver um pouco da experiência que os alemães têm, não só a nível do trabalho partidário, mas também do trabalho político, para que possamos estar em melhores condições de assumir as nossas responsabilidades com o país. Neste momento, estamos na oposição, mas o PAICV é um partido do arco do poder que nestes 43 anos de independência nacional teve a responsabilidade de governação durante 30 anos - estivemos na governação de Cabo Verde até 2016 - e tanto na governação como na oposição assumimos as nossas responsabilidades para com o nosso país, para com os cabo-verdianos.

DW África: Quais foram os pontos altos da visita?

JHA: Os encontros que realizámos com alguns membros do SPD (Partido Social Democrata) foram no sentido de conhecermos um pouco mais a experiência do partido alemão, o trabalho que vem sendo desenvolvido. Tivemos também um encontro com o secretário-geral da Fundação Friedrich Ebert, onde ficámos com uma perspetiva muito clara relativamente à formação para a consolidação da democracia, à preparação para uma melhor e maior participação cívica. Tivemos ainda encontros com alguns representantes ao nível da estrutura do Estado para conhecermos iniciativas que são muito interessantes, como é o caso do 'Compacto G-20 para África', através do qual quisemos perceber em que medida e quais as diligências que Cabo Verde poderá ou terá de fazer para mobilizar parcerias, envolvendo também o setor privado cabo-verdiano, tendo por objetivo conseguirmos resolver alguns problemas que ainda são emergentes do nosso país.

Oposição de Cabo Verde esteve em Berlim à procura de apoio internacional

DW África: Em nota divulgada pelo PAIVC, o objetivo da visita seria "recolher subsídios para melhor defender as expetativas dos cabo-verdianos na diáspora". Este objetivo foi alcançado?

JHA: Totalmente, porque quando trabalhamos para aprofundar o conhecimento de outras realidades, para que possamos apresentar as melhores propostas alternativas para o desenvolvimento de Cabo Verde, estamos a ajudar o nosso país. Seja para os cabo-verdianos residentes no arquipélago, seja para os que estão na diáspora e que também continuam a ter um grande interesse na sua terra natal, onde deixaram familiares, e que querem ver o país a desenvolver-se - independentemente de onde estiverem.

DW África: A visita resultou também em novas parcerias em termos financeiros?

JHA: Resultou no reforço das relações entre o PAICV e o SPD e entre o Instituto Para Democracia e Progresso (IDP) e a Fundação Friedrich Ebert. Mais do que resultados financeiros, o que queremos são impactos concretos que tenham a ver não só com a parte financeira, mas com a partilha de experiências, de informações, com a transmissão e transferência de know how e conhecimento para que consigamos elevar a nossa participação na vida política do país e ao mesmo tempo qualificarmos a nossa democracia, dando o nosso contributo.

DW África: Qual a importância de se manter e reforçar os laços com partidos congéneres, no caso, o Partido Social Democrata alemão?

JHA: Porque os desafios que a esquerda vem enfrentando um pouco por todo o mundo, e o PAICV, como o SPD, fazem parte da Internacional Socialista, uma esquerda moderna e progressista, são desafios que acabam por ser similares. Neste momento, é preciso que a esquerda reflita sobre as razões do avanço de algum populismo, das vitórias que alguns movimentos extremistas da direita vêm conseguindo, para que possamos ter respostas adequadas e oportunas, para continuarmos a implementar as nossas ideias pela via da democracia, pela via da conquista da confiança dos cidadãos e, seguramente, uma reflexão conjunta dar-nos-á mais pistas de como vencer esses desafios, como ultrapassar essas dificuldades e de como mudar esta realidade.

DW África: Em outubro passado, a proposta de lei do Movimento para a Democracia (MpD-no poder) para criação de regiões administrativas foi aprovada na generalidade, no Parlamento. Nesta votação, a maioria dos deputados do PAICV absteve-se, um votou contra e dois votaram a favor. Entretanto, a ideia do partido era contestar o conteúdo do documento, no que se refere aos custos para o país e para os cabo-verdianos. Foi uma derrota para si, como líder do partido?

JHA: Não foi uma derrota para mim. Por enquanto, continuamos a ter a nossa visão clara sobre a regionalização. Entregámos a nossa proposta há mais de cinco meses no Parlamento e continuamos a defender exatamente aquilo que sempre defendemos. Não só a Comissão Política Nacional como o Conselho Nacional do PAICV (órgão mais importante entre dois congressos) reafirmaram a sua posição sobre a regionalização, reiterando o seu apoio à proposta que foi entregue na Assembleia Nacional (Parlamento), ou seja, o PAICV apoia, sim, a regionalização administrativa, mas no âmbito de uma ampla reforma do Estado. Se a proposta se mantém, se há uma reafirmação da posição do partido, que como presidente do PAICV defendi e que uma grande maioria deputados do meu partido defendeu no Parlamento, francamente entendo que existe uma reafirmação, não só da lucidez da proposta, como, sobretudo, do alinhamento dessa proposta por nós defendida com os interesses supremos do povo cabo-verdiano.

DW África: Observadores da política nacional dizem que há um mal estar no seio do PAICV. Sente que sua liderança está sendo questionada?

JHA: Candidatei-me pela primeira vez à liderança do PAICV em 2014. Venci essa eleição perante dois outros adversários internos. Depois de perder as eleições legislativas, coloquei o cargo à disposição para permitir a todos quantos tivessem uma outra visão para se candidatarem e merecerem também a confiança dos militantes do PAICV. Candidatei-me sozinha outra vez e mereci novamente a confiança dos militantes do meu partido - de forma reforçada, relativamente à primeira eleição. Portanto, com toda a franqueza, sinto-me absolutamente legitimada para liderar o PAICV e implementar a visão que defendi na moção de estratégia e assim alcançar os objetivos preconizados. O PAICV está a passar por uma transição geracional, mas também uma transição que acontece normalmente em todos os partidos. E como qualquer transição implica resistências, elas devem ser encaradas com normalidade. O partido está na oposição e a trabalhar com dignidade, continuará a defender as suas ideias para proteger e salvaguardar os interesses dos cabo-verdianos. É esta a nossa perspetiva que sempre iremos defender perante os militantes e os cabo-verdianos.

 

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