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"Os egos estão a travar o desenvolvimento da Guiné-Bissau"

Djariatú Baldé
31 de maio de 2024

Greve de cinco dias na Saúde e na Educação volta a trazer à tona os desafios nos dois setores. Sociólogo guineense diz que um grande problema é o ego dos políticos, que impede o desenvolvimento do país.

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Escola na Guiné-Bissau
Foto: DW

Os setores da Saúde e Educação continuam a carecer de quase tudo para um bom funcionamento. Além dos baixos salários, que os profissionais dessas áreas denunciam, há falta de condições de trabalho, infraestruturas precárias, ausência de equipamentos modernos e pouco investimento.

As sucessivas greves nos últimos anos também têm prejudicado o funcionamento das escolas e dos serviços de saúde na Guiné-Bissau. Esta semana, houve mais uma greve da Frente Social, uma organização que reúne sindicatos de ambos os setores.

Em entrevista à DW, o sociólogo guineense Tamilton Teixeira afirma que a falta de sensibilidade e de compromisso político tem contribuído para o agravamento de todos esses problemas. "Sem a estabilidade política desejável, é impossível ter sistemas de saúde e de educação de qualidade", diz Teixeira.

DW África: Qual é o atual estado dos setores da saúde e educação na Guiné-Bissau?

Tamilton Teixeira (TT): É um quadro estrutural de crise que se revela cada vez mais caótico por falta de visão e de estratégias claras e definidas. Isso leva a greves recorrentes sem que os pontos acordados sejam realmente solucionados.

DW África: Decorre atualmente mais uma vaga de greve nos dois setores, a terceira desde o início do ano. O que falta? Porque é que estas paralisações continuam a acontecer?

TT: A estrutura da saúde pública guineense é praticamente ineficiente para os desafios atuais e não atende à demanda nacional. O setor da saúde pública nunca foi reformado, tem um modelo arcaico sem meios adequados de funcionamento, como exige a medicina moderna.

Sociólogo guineense, Tamilton Teixeira
Tamilton Teixeira: "Precisamos de compromissos, responsabilidade e uma visão clara"Foto: Privat

Além disso, a política de formação e de contratação de recursos humanos não é clara. Jovens que terminam a formação não têm encaminhamento profissional definido, apesar do país precisar de médicos e enfermeiros. É inaceitável que recém-formados passem anos estagiando sem efetivação.

No setor da educação, as políticas também são descoordenadas e os salários são baixos.

DW África: Qual tem sido o impacto destas greves constantes na vida dos cidadãos guineenses?

TT: Os guineenses estão numa situação em que parece que a falta de saúde e educação já não faz tanta diferença. No interior do país, a situação ainda é pior, com aulas em condições precárias e falta de profissionais. O impacto é grave. A Guiné-Bissau apresenta os piores indicadores de saúde e educação na sub-região.

A instabilidade política agrava a situação, tornando impossível a existência de sistemas de saúde e educação de qualidade.

DW África: Em concreto, como resolver esses problemas e ultrapassar esta situação?

TT: É preciso que os guineenses tomem consciência de que os tempos mudaram, globalmente, e que os egos – o excesso de personalismo – estão a substituir as instituições do Estado. Isso tem matado a possibilidade de a Guiné-Bissau se desenvolver.

Precisamos de compromissos, responsabilidade e uma visão clara. Quem vai para a vida política, quem quer governar, deve ter um projeto realista para o país.

DW África: Como mobilizar mais dinheiro para a educação e para a saúde?

TT: O problema da Guiné-Bissau não é a capacidade de mobilizar fundos, mas a falta de seriedade dos gestores públicos e a instabilidade política. Sem estabilidade, qualquer financiamento será inútil. Precisamos de políticas eficazes para que os recursos sejam bem utilizados.

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