“Os Transparentes” novo livro do escritor angolano Ondjaki
14 de novembro de 2012Nos trabalhos anteriores Ondjaki sempre colocou Luanda no centro da sua escrita e das suas histórias e o mesmo acontece com “Os Transparentes” em que Luanda, a de hoje, volta a aparecer, num clima de pós-guerra, vivendo numa democracia, onde “progresso” e “desenrasca” andam de braço dado.
Antes deste lançamento, o escritor angolano Ondjaki, passou na última semana por Berlim, onde participou no Festival Berlinda de Cultura e Língua Portuguesa.
Na quinta-feira (8.11), Ondjaki apresentou na capital alemã o seu documentário 'Oxalá Cresçam Pitangas', feito em parceria com o realizador angolano Kiluanje Liberdade. Esta é primeira obra de Ondjaki como realizador.
O documentário 'Oxalá Cresçam Pitangas' (2007) nasceu da vontade de contar a história da capital angolana. Com seus contrastes e suas curiosidades, Luanda chama a atenção do mundo, e despertou a sensibilidade do realizador angolano Kiluanje Liberdade e do escritor angolano Ondjaki. “Os dois estávamos cansados de ver Angola filmada por estrangeiros e com um olhar estrangeiro. E então disse a Kiluanje...vamos fazer um filme aqui com angolanos, feito por angolanos e ver como isso acontecerá”.
Falar sobre a vida de dez luandenses foi o caminho escolhido para fazer um retrato da cidade. Eles foram entrevistados, guiados por temas establecidos pelos realizadores, como destaca Ondjaki: “Luanda, o futuro de Luanda, a guerra, como é que está a cidade. Eram eixos que passavam por todas as entrevistas”. Para o escritor/realizador, as pessoas têm reações diferentes às perguntas que lhes são colocadas e acrescenta “elas estão a falar de si próprias e vamos lendo Luanda através da vida dessas pessoas. Há muitas matérias televisivas e reportagens sobre Luanda, mas aí o assunto é o petróleo, a corrupção, a guerra...” . Ondjaki, quer saber mais sobre essas pessoas e o que fazem no seu dia a dia.
“Tinha esses pressentimento de que ao falar da vida das pessoas iríamos chegar à cidade”.
Foram 40 dias de filmagens feitas três anos após o fim da guerra civil em Angola, nos anos de 2005 e 2006. Ondjaki revela que o resultado é uma interpretação humanizada de Luanda e que se surpreendeu ao descobrir aspectos desses personagens da vida real: "O angolano do modo geral, mas o luandense é uma pessoa muito habituada a reagir. Quando há uma dificuldade reage com um sorriso...e esta é uma sabedoria extrema".
Segundo ele, a tolerância é também algo que descobriu durante as filmagnes: As pessoas são muito tolerantes e querem coisas muito bonitas e muito simples para a cidade. Essa tolerância pode ser boa para a pessoa mas também pode jogar contra o futuro da cidade...porque se formos demasiados tolerantes teremos dificuldades em provocar uma certa mudança”, afirma.
'Oxalá Cresçam Pitangas' é a primeira obra de Ondjaki como realizador. Ele se diz satisfeito e avalia o resultado “ porque uma coisa é ler um livro e outra coisa é ver um documentário. As exigências, o ritmo, o modo como as pessoas se expressam na sua casa.... Achei que havia coisas que podia dizer no documentário, articular com um tipo de idéias, que posso articular na literatura, mas que o resultado é outro...e o resultado ali é mais humano. Pelo menos temos a voz e a imagem e isto causa um impacto muito forte na maneira como se pode revelar uma cidade”.
O documentário traz a versão dos entrevistados. Mas na entrevista à DW África o escritor angolano Ondjaki revelou que também ele tem sonhos para sua cidade natal: ”É injusto que a grande maioria da população não tenha ainda condições básicas de fornecimento de água, luz e saneamento básico. Isto está a ser feito”, sublinha Ondjaki, antes de concluir que “existe uma tentativa de criar condições, mas o que quero para aquela cidade é que o pobre não seja tão pobre”.
Autora: Cristiane Vieira Teixeira (Berlim)
Edição: António Rocha/Helena Ferro de Gouveia