Hospital proíbe pacientes de receberem comida de familiares
27 de outubro de 2016Augusto Narciso fraturou a perna direita num acidente de motorizada e está há mais de duas semanas internado no Hospital Geral do Lubango, no sul de Angola. Mas Augusto só está autorizado a comer as refeições vendidas pelo hospital. Cada refeição custa dois mil kwanzas, o equivalente a 11 euros, a mais cara. Se ele quiser comprar comida mais barata fora do hospital, não pode:
Augusto Narciso fraturou a perna direita num acidente de motorizada e está há mais de duas semanas no Hospital Geral do Lubango, província da Huíla, sul de Angola. Mas Augusto só está autorizado a comer as refeições vendidas no hospital. Cada refeição custa dois mil kwanzas, o equivalente a 11 euros, a mais cara.
Se ele quiser comprar comida mais barata fora do hospital, não pode: "Isto é absurdo! A minha comida está proibida de entrar aqui. Se eu tiver dinheiro para ir comprar aí em baixo no restaurante eles aceitam. E só pegar a tigela entregar e dinheiro que compram aí. Se eu quiser um sumo eles aceitam. Mas se eu pedir para irem comprar lá fora não aceitam. Assim estamos a viver como?"
Cada refeição que Augusto compra é apontada numa lista do restaurante no hospital. No dia em que tiver alta, antes de sair, o paciente terá de pagar a conta.
Maria dos Santos Ndavipwa terá de fazer o mesmo. Ela foi sujeita a uma operação cirúrgica há dias e está agora na fase de recuperação. E ela lamenta: "Custa viver. Vou fazer como? A pessoa vai recuperar como assim? Não dá." Maria diz que prefere ir para casa e fazer tratamento ambulatório, para não ter de gastar tanto dinheiro no restaurante do hospital.
Críticas ao GovernoNo Lubango, o padre Jacinto Pio Wacussanga critica esta prática, classificando-a como um ato desumano: ¨Eu não sei quem aconselha os governantes a procederem desta maneira. Trata-se de um ato de completa desumanidade, não tem explicação; é um absurdo para uma República que se considera um Estado Democrático e de Direito ¨
A DW África tentou ouvir os responsáveis do Hospital Central do Lubango e as autoridades de saúde da província da Huíla, mas ninguém se mostrou disponível para falar.
O paciente Lourenço Gouveia apela ao Governo para mudar a situação no hospital: ¨Estamos a ver que o Governo não repara nisso, o que nos põe em pânico pois somos cidadãos angolanos e merecemos direitos iguais. Estamos a ver que somos atirados a sorte do diabo e assim não temos saída¨.