PALOP trazem História para as telas da Berlinale
15 de fevereiro de 2024Este ano, os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) estão representados na 74ª edição do Festival Internacional de Cinema de Berlim em três filmes e na participação do luso-guineense Welket Búngue no evento AfroBerlin.
O realizador moçambicano Inadelso Cossa regressa à Berlinale com o filme documental "As noites ainda cheiram a pólvora". Com esta mesma produção Inadelso esteve na Berlianle no ano de 2019, quando participou na sessão Talents e preparou a produção da longa-metragem.
O filme traz à tona as memórias da Guerra Civil Moçambicana, que durou de 1977 a 1992 – quando o realizador ainda era uma criança.
Inadelso Cossa recorre a material de arquivo mas também a relatos de sobreviventes, na aldeia de sua avó, para registar este período marcante da história do seu país.
Com 93 minutos de duração, "As noites ainda cheiram a pólvora" é uma co-produção entre Moçambique, Alemanha, França, Portugal, Países Baixos e Noruega. Estreia na sessão Forum a 17 de fevereiro e concorre ao urso de ouro.
Voz de Amílcar Cabral
Filipa César está de volta à Forum com o filme "Resonance Spiral" (ou "Espiral de Ressonância", na tradução literal para português), realizado em conjunto com o artista transdisciplinar de origem guineense Marinho de Pina.
"Resonance Spiral" documenta a construção do edifício Abotcha em Malafo, uma aldeia tradicional Balanta na Guiné-Bissau, que acolhe a Mediateca Onshore desde 2023. O filme também regista as práticas agro-poéticas que lá tiveram lugar, mostrando diálogos entre o arquivo - em especial áudios históricos datados de 1970 em que Amílcar Cabral apela à igualdade de género - as artes performáticas e a comunidade.
A realizadora portuguesa Filipa César tem uma década de envolvimento com a Guiné-Bissau através do seu projeto de arquivo "Luta ca caba ainda", sobre o cinema militante guineense, e da sua última longa-metragem "Spell reel". Tem estado engajada em reconstruir a memória audiovisual do movimento de libertação da Guiné-Bissau e torná-la acessível ao público.
Recursos naturais e resistência
"Which Way Africa?" ("Qual o caminho para África?" na tradução literal para o português), do diretor congolês David-Pierre Fila, foi rodado em Angola, Congo e Camarões. O filme aborda um tema de relevância para todos os países africanos onde se explora os recursos naturais: o apoderamento das riquezas de um país e as vozes de resistência.
Estreia a 16 de fevereiro na sessão "Panorama Documente" e promete promover o debate sobre o futuro do continente africano.
AfroBerlin: Promover o cinema africano
Esta 74ª edição da Berlinale marcará a estreia do evento AfroBerlin, que consiste em painéis de discussão e ambiente para networking com foco na indústria cinematográfica africana.
Ao longo de todo o sábado (17.02), acontecerá uma série de painéis de discussão, de perspetivas estratégicas e de apresentações, com vista a informar ainda mais as empresas de produção, os parceiros de distribuição e os financiadores sobre a viabilidade comercial dos conteúdos produzidos por cineastas africanos e afrodescendente, entre outros.
O evento tem a participação de representantes da União Africana, o banco de financiamento do comércio em África, Afreximbank, e o Instituto de Cinema Africano.
A Guiné-Bissau estará representada pelo realizador luso-guineense Welket Bungué, no painel sobre a identidade afro-europeia no cinema. Ao todo serão 43 painelistas.
Provocar reflexão
"Acreditamos que, através do poder dos filmes e de debates abertos, podemos ajudar a fomentar a empatia, a consciencialização e a compreensão - mesmo e especialmente em tempos dolorosos como estes. A nossa solidariedade vai para todas as vítimas da crise humanitária no Médio Oriente e noutros locais," disse o co-diretor da Berlinale no momento do anúncio da programação do festival.
"Queremos que o nosso programa seja aberto à discussão de diferentes perspetivas sobre a complexidade do mundo," enfatizou Carlo Chatrian.
Neste Festival Internacional de Cinema de Berlim, competem 20 filmes na mostra principal. O realizador, produtor e argumentista norte-americano Martin Scorsese será o homenageado deste ano e receberá um Urso de Ouro pela sua obra.
A direção da Berlinale decidiu desconvidar os cinco políticos do partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD), que haviam sido anteriormente convidados para a cerimónia de abertura do Festival.
"Especialmente à luz das revelações das últimas semanas sobre posições explicitamente antidemocráticas de políticos da AfD, é importante para tomar uma posição inequívoca a favor de uma democracia aberta", explicaram os diretores da Berlinale, Mariëtte Rissenbeek e Carlo Chatrian.
A Berlinale decorre de 15 a 25 de fevereiro na capital alemã.