"Panama Papers": Ministro angolano implicado no escândalo
4 de abril de 2016Batizada de "Panama Papers" ("Documentos do Panamá"), a lista está a dar que falar desde domingo (03.04). Os documentos foram obtidos pelo jornal alemão "Süddeutsche Zeitung" e divulgados pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação.
No site, a organização sem fins lucrativos com sede em Washington refere que remonta a 2002 a utilização de empresas offshore por José Maria Botelho de Vasconcelos, atual ministro dos Petróleos de Angola e antigo presidente da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP).
A inclusão de Botelho de Vasconcelos na lista não surpreendeu o jornalista angolano Rafael Marques. O ativista calcula até que haja ainda mais nomes. Basta "fazer uma investigação mais aprofundada", disse à DW África, a partir de Washington.
"Sei de muitas companhias que foram criadas com base no Panamá, incluindo vários oficiais angolanos e testas de ferro, entre os quais o próprio Manuel Vicente, atual vice-presidente de Angola", afirma Rafael Marques, sublinhando que quando se fala de corrupção em Angola, fala-se de "biliões de dólares".
Segundo o jornalista, "todos os possíveis paraísos fiscais são usados também pelos angolanos para esconderem o produto do saque da rapina de Angola".
Fuga de informação histórica
A investigação foi realizada por centenas de jornalistas. Foram analisados 11,5 milhões de documentos, provenientes da empresa de advogados panamiana Mossack Fonseca, especializada em gestão de capitais e patrimónios.
A fuga de informação, uma das maiores de sempre, expõe companhias offshore ligadas a mais de 70 nomes de atuais ou antigos chefes de Estado: "Estamos perante uma indústria enorme. E esta investigação veio mostrar o tamanho desta indústria e a quantidade de dinheiro que flui através dela", sublinha Gerard Ryle, do Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação.
Entre os nomes divulgados pelos "Documentos do Panamá" surgem o Presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, o rei da Arábia Saudita ou elementos próximos do Presidente russo Vladimir Putin.
Outro nome lusófono apontado é o do empresário português Idalécio de Castro Rodrigues de Oliveira, que está a ser investigado por corrupção no Brasil, no âmbito da operação "Lava Jato".
Além dos políticos, aparecem nos documentos outros nomes sonantes, como o futebolista Lionel Messi e o presidente da UEFA, Michel Platini. O grupo alemão Siemens também é mencionado. O Governo de Berlim já sublinhou que é necessário avançar no combate ao branqueamento de capitais e à fraude fiscal.
Nomes africanos na lista
Além do ministro angolano há outros africanos na lista, como Clive Khulubuse Zuma, sobrinho do Presidente sul-africano Jacob Zuma, Jaynet Kabila Kyungu, irmã do chefe de Estado da República Democrática do Congo, Joseph Kabila, e o presidente do Senado da Nigéria, Bukola Saraki.
O ativista nigeriano Sani Aliyu diz que a investigação é um "aviso a todos os políticos" do país. "É uma situação muito lamentável, mas também é um bom passo em frente porque mostra que o mundo se tornou uma aldeia global e deixou de haver vacas sagradas", declarou à DW África.
A investigação desencadeou crises políticas em alguns países. Noutros, como Panamá, México e Espanha, foram prometidas investigações para averiguar se o uso de "offshores" foi legal ou não.