Papa em Moçambique: Pastores satisfeitos com sinal de "paz"
2 de setembro de 2019O papa Francisco chega a Moçambique em plena campanha eleitoral e numa altura em que a chamada autoproclamada Junta Militar da RENAMO ameaça bloquear o processo. Chega também num momento de tensão no norte, com ataques na província de Cabo Delgado, que já provocaram a morte de cerca de 200 pessoas.
Apesar de tudo isto, pastores ouvidos pela DW África em Chimoio consideram que esta visita do papa Francisco é um bom sinal, um sinal de "paz", que beneficiará os moçambicanos.
O país prepara a passadeira vermelha para receber o sumo pontífice. Segundo o Governo, serão gastos 20 milhões de meticais (quase 300 mil euros) com os preparativos.
Antes da visita, o papa apelou à "reconciliação fraterna" em Moçambique e em África, para uma "paz firme e duradoura". Francisco chegará a Maputo um mês depois da assinatura do acordo final de paz entre o Governo moçambicano e o maior partido da oposição, a RENAMO.
Um garante da paz?
Para Creva Gama, pastor da igreja "Missão Fé Apostólica" em Moçambique, esta visita do papa "não é uma visita qualquer": "É uma visita que tem a ver com o bem-estar deste país, o bem-estar dos moçambicanos, e é uma visita que está a acontecer depois da assinatura da cessação das hostilidades, portanto, vem confirmar mais uma vez que o nosso senhor Deus ouve as orações dos seus filhos", considera.
Quatro anos depois da última visita de um papa a Moçambique, em 1988, a guerra civil terminou e foi assinado o primeiro acordo de paz do país. O papa Francisco disse que vai a Moçambique para "ver a sementeira" feita por João Paulo II.
Maiba Wache, pastor da igreja "Full Gospel" e vice-presidente do Conselho de Religiões na província de Manica, descreve a visita do papa Francisco a Moçambique como "uma grande bênção e uma grande dádiva" para o país. "Ainda nos podemos recordar dos ganhos que tivemos pela vinda do outro papa. Quando entrou em Moçambique, nós tivemos a paz que durou 20 anos. Foi graças à visita do papa", afirma.
Wache relativiza as críticas recentes de um padre moçambicano, que afirmou que a visita do papa em plena campanha para as eleições gerais de outubro poderia beneficiar o partido no poder, a FRELIMO. "Nós, como religiosos, tudo entregamos nas mãos de Deus. Deus é quem tem o poder de escolher o homem certo que possa conduzir o destino desse país", sublinha.
O pastor Creva Gama concorda: "Ao dizermos que ele vem para que o Presidente Nyusi seja reeleito estaríamos a afirmar coisas não muito certas, porque ele não vem a convite de um partido político, e ele não vem por causa das eleições. É uma coincidência".