Paralisação de professores prejudica 30 mil alunos no sul de Angola
3 de outubro de 2013Em greve estão perto de 22 mil professores do ensino geral na província da Huíla, no sul de Angola, protestando contra o não cumprimento do legislado por parte do ministério da Educação. A continuação da paralisação está a preocupar pais e alunos, numa altura em que faltam menos de dois meses para o fim do ano letivo de 2013 e quando, cujas as avalições finais, estão calendarizadas para 22 de novembro de 2013
O que está a motivar a greve é, segundo os professores, o não pagamento das colaborações por parte do Governo desde 2001, a cobrança de subsídios no salário base e o congelamento de progressão na carreira que o Ministério da Educação diz ter terminado, mesmo sem contemplar os docentes do ensino geral.
Silenciamento da imprensa
Em risco de perderem o presente ano letivo de 2013 estão mais de 30 mil crianças. Para poder minimizar a situação, o Governo Provincial liderado por João Marcelino Tchipingui, também ele professor de profissão, terá orientado os órgãos locais de informação a não abordar o assunto na imprensa. Contudo, esta orientação representa uma violação do direito de informação, presente na Constituição angolana, e diversos jornalistas lamentam a sugestão do Governo Provincial.
"A Huíla está a viver um silenciamento da imprensa pública quando há uma greve no ensino geral", diz revoltado Teodoro Albano, jornalista da Voz da América. Explica que são mais de um milhão de crianças sem aulas e que este acontecimento é "a todos os níveis de interesse público", reitera.
Para o jornalista, é "caricato" o silêncio da imprensa perante uma greve tão expressiva. "Esta situação leva-nos a questionar como está a gestão da informação no nosso país", afirma.
Já o jornalista Sebastião da Silva, da Rádio Despertar, acusa Angola de ainda viver num "sistema ditatorial". Contactados pela DW África, a direção dos órgãos de comunicação locais preferiram não comentar o assunto.
Durante negociações no primeiro trimestre, o Governo Provincial da Huíla e o Sindicato Nacional de Professores (SINPROF) acordaram que, num horizonte temporal de 120 dias, os desentendimentos entre as partes teriam que se resolver.
Pais exigem consenso
Temerosos de que os seus filhos percam o presente ano letivo, pais e encarregados de educação imploram ao Governo por diálogo e pela procura efetiva de uma solução urgente. Um pai relembra que "está a terminar o ano lectivo" e que por isso "deviam chegar a um consenso pois esta situação não começou agora".
Apesar de já terem sido alcançados alguns objetivos da SINPROF, João Francisco, secretário provincial do Sindicato, diz que nem todos os professores estão satisfeitos com as conquistas. "O resultado não foi suficiente para desanuviar a tensão gerada no seio dos professores", reitera. João Francisco diz que os professores concordam em manter a greve até obterem respostas concretas do Governo.
Motivados por falta de resultados, a Assembleia de professores decretou a continuidade da greve no ensino geral, de acordo com o secretário provincial do SINPROF. "A Assembleia é soberana nos nossos estatutos", indica. Afirma que poderiam "suspender a greve e optar pela via diplomática, mas quem decide é a Assembleia."
Tanto o director provincial da Educação da Huíla, Américo Chicoty, bem como a vice-governadora para o setor político e social e coordenadora da Comissão de negociação, Maria João Tchipalavela, mostraram-se indisponíveis para prestar declarações.