Património de África é sub-representado na UNESCO
3 de agosto de 2021O continente africano conseguiu, este ano, colocar mais dois nomes naquela que é a lista dos lugares mais cobiçados do mundo. As oito mesquitas de estilo sudanês localizadas no norte da Costa do Marfim e o Parque Nacional do Ivindo no Gabão integram agora a famosa lista do Património Mundial da UNESCO.
Para além destes dois locais, foram adicionados à lista, em 2021, 16 candidatos da Europa e outros 16 provenientes de outras regiões do mundo.
A Convenção foi criada em 1972 e na altura, a maioria das pessoas responsáveis pela criação deste projeto era europeia. Isso explica porque quase metade dos 1154 lugares classificados como Património Mundial da UNESCO estão no velho continente.
Um velho desequilíbrio
Em África existem menos de cem. O arqueólogo queniano George Abungu explica que apesar de ser uma convenção que se foca no património de valor universal excepcional a definição do que se encaixa nesse conceito é eurocêntrica desde o início.
"Por isso, para entrarem na lista, os países africanos têm de provar o extraordinário valor dos seus sítios através da visão ocidental", esclarece.
Christoph Brumann, especialista do Instituto de Investigação Etnológica Max Planck, em Halle, partilha a mesma opinião. Ele explica que também há poucas candidaturas de países africanos, isso porque é um processo exigente, que envolve a compilação de dossiês com centenas e milhares de páginas.
"É [um processo] que é muito mais fácil de gerir para países com mais know-how e experiência em conservação de monumentos e com mais dinheiro do que para muitos países africano”, constata.
A própria UNESCO reconhece o problema
Mechtild Rössler é diretora do Centro do Património Mundial da Unesco em Paris desde 2015 admite que a organização precisa auxiliar muito mais em certas regiões.
Para ela, deveria-se assessorar os países africanos "para preparar boas nomeações e reforçar o desenvolvimento de capacidades no que diz respeito à conservação, gestão no terreno e preparação de riscos, porque muitos sítios do Património Mundial estão ameaçados”.
Segundo Rössler, deveriam ser as universidades a desempenhar um papel mais importante neste contexto e a envolver-se mais na proteção do património cultural. Poderiam ser elas, por exemplo, a compilar todos os documentos necessários à candidatura, diz.