Pedro Pires galardoado com prémio Mo Ibrahim por boa governação
10 de outubro de 2011Pedro Verona Pires, ex-presidente de Cabo Verde, é o vencedor do prémio Ibrahim 2011, que reconhece a excelência na liderança africana. O anúncio foi feito pelo ex-secretário geral da Organização da Unidade Africana, (OUA) Salim Ahmed Salim, que no seu discurso destacou que “Cabo Verde é hoje uma história africana de sucesso: económica, social e politicamente”.
Segundo Ahmed Salim, Pedro Pires "investiu na prosperidade do país e na melhoria do capital social dos seus cidadãos. Cabo Verde tem uma taxa de alfabetização acima dos 80% e uma esperança média de vida acima dos 70 anos. A pobreza e o desemprego são ainda um desafio, mas o país está bem posicionado para alcançar os Objetivos do Milénio das Nações Unidas", concluiu.
Questão de liderança
Questionado sobre o porquê da excelência de um país pequeno e com poucos recursos naturais, Mo Ibrahim, que dá nome à fundação, respondeu que "não é uma questão de dimensão do país nem dos recursos de que dispõe. É uma questão de liderança". Ele disse ainda que "não houve pressão para atribuir o prémio" que não teve vencedores desde 2008, ano em que o laureado foi o antigo presidente de Moçambique, Joaquim Chissano.
O ex-estadista moçambicano, disse esta segunda feira (10.10) que era muito difícil “acreditar que Pedro Pires tenha inimigos cabo-verdianos. Ele tem um coração que o une ao seu povo e até fala com a oposição”.
Chissano recordou que conheceu o laureado quando foram forçados a deixar Portugal em 1961 para se juntarem ao movimento pela libertação. Segundo o ex-presidente de Moçambique "Ele não gosta de violência, e não gostou de ver as atrocidades cometidas pelo colonialismo. Na sua sociedade procurou paz e reconciliação, sobretudo com a Guiné-Bissau. É um homem calmo, mas com pensamentos muito profundos”, sublinhou.
Chissano lembrou a importância de que os governos tomem atenção ao Índice Ibrahim. Cabo Verde ficou em segundo lugar geral, atrás das Ilhas Maurícias, e foi o melhor país africano na categoria de participação e Direitos Humanos.
"Vou escrever as minhas memórias"
Ao reagir à notícia, Pedro Pires, que completou precisamente esta segunda- feira (10.10) 31 dias depois de deixar o cargo de Presidente da República de Cabo Verde, disse aos jornalistas: "Vejo nisso não somente o prémio de uma vida, de um envolvimento e de um comprometimento com o meu país e com a África, mas também, uma maior responsabilidade para a minha pessoa". O galardoado acrescentou ainda que terá que estar "à altura deste galardão e da decisão daqueles que escolheram o meu nome para receber o Prémio Mo Ibrahim".
Questionado sobre o que vai fazer com o cerca de quatro milhões de euros que vai receber, Pedro Pires sorriu e, depois, indicou que entre outras coisas: "Vou escrever as minhas memórias desde a luta pela independência de Cabo Verde, compilar os meus discursos proferidos durante a minha passagem pela chefia do Governo e do Estado,etc..."
O valor do prémio, cinco milhões de dólares (3,7 milhões de euros), é distribuído durante dez anos em tranches de 500 mil dólares (373 mil euros).
Primeiro-ministro logo após a independência
Todos os quadrantes políticos de Cabo Verde enviaram mensagens de congratulação e regozijo a Pedro Pires, nomeadamente o Presidente do Parlamento, Basílio Mosso Ramos, que afirmou a dado passo "a imagem e o prestígio de Cabo Verde saem reforçados com este prémio". Em nome do principal partido da oposição, o Movimento para a Democracia, um dos seus vice-presidentes, Ulisses Correia e Silva destacou "que o prémio valoriza Cabo Verde e indaga os dirigentes a refletir sobre a necessidade de melhorar ainda mais a democracia cabo-verdiana".
Primeiro-ministro durante os primeiros 16 anos da independência (1975/91) e chefe de Estado nos últimos dez (2001/11), Pedro Pires saiu da vida política há apenas um mês, quando Jorge Carlos Fonseca lhe sucedeu como Presidente da República em setembro.
Na lista de 53 nações referente ao Índice Mo Ibrahim de 2011, São Tomé e Príncipe ficou em 12º, Moçambique em 21º, e os lugares 42 e 44 foram ocupados por Angola e a Guiné-Bissau, próximos do pior registo: a Somália.
Autores: Débora Miranda (Londres) / Nélio dos Santos (Cidade da Praia)
Edição: António Rocha