Peste bubónica ameaça Madagáscar
26 de novembro de 2014Ankasina é um bairro de lata pobre e sobrelotado a nordeste da capital de Madagáscar, Antananarivo. Águas residuais correm a céu aberto. Sujidade e lixo acumula-se nas ruas. A área está infestada de ratazanas, de acordo com os residentes.
Agora, as ratazanas significam um problema ainda maior: a peste. Pela primeira vez em dez anos, a doença começou a espalhar-se na capital de Madagáscar. Uma jovem de Ankasina morreu vítima da peste bubónica. Suspeita-se que contraiu a doença depois de ter sido mordida por uma pulga, infectada com a bactéria através de roedores.
Quarenta e sete pessoas morreram este ano vítimas de peste, em cinco das 112 províncias da ilha de 23 milhões de habitantes, ao largo da costa oriental de África.
O relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre a situação da peste em Madagáscar, divulgado na passada sexta-feira, e que alerta para o perigo de uma “expansão rápida da doença”, está a causar o pânico no país.
O primeiro-ministro de Madagáscar, Kolo Roger, admite que a situação continua a ser grave. “Consideramos que se trata de uma epidemia. Todas as medidas necessárias foram já tomadas para travar o aumento de casos, seja dentro ou fora de Antananarivo”, declarou
Sistema de saúde insuficiente
Madagáscar é um dos países mais pobres do mundo. A maioria da população vive com menos de dois dólares por dia. O sistema de saúde é insuficiente. Em algumas zonas rurais, é quase impossível encontrar um médico. Por isso, a população está vulnerável a infecções em geral, especialmente a doenças transmitidas por roedores ou insectos.
“Nos últimos anos, Madagáscar tem vindo a ser afetado por epidemias de peste de forma esporádica. Em parte, porque o clima quente propicia a transmissão através de roedores ou insetos, mas também devido à densidade populacional, em particular nas prisões, e à falta de higiene, em geral”, explica Brendan Wren, especialista em doenças infecciosas da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres.
De acordo com o Governo malgaxe, desde janeiro foram detectados 140 casos suspeitos. Esta semana, o Ministério da Saúde anunciou na que 200 habitações foram desinfectadas numa campanha de controlo da peste, em bairros de lata nos arredores de Antananativo, mas a OMS continua preocupada com a situação.
“Há sempre alguns casos, mas nunca tínhamos visto tantos em tão pouco tempo, como estamos a ver agora em Madagáscar. Estamos muito preocupados”, afirma o porta-voz da organização, Christian Lindmeier.
Antes de mais, explica, é preciso encontrar e travar a fonte de infecção. “É necessário também usar inseticidas contra as pulgas, o que é actualmente o maior desafio, uma vez que estes insetos se têm revelado muito resistentes aos pesticidas utilizados”, acrescenta Christian Lindmeier.
A OMS já enviou um especialista a Antananarivo para apoiar as autoridades locais no combate à epidemia. A quase totalidade das infecções é de peste bubónica, a mais comum, facilmente tratável através de antibióticos, com uma taxa de 90% de sobrevivência.
Brendan Wren, da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, alerta, no entanto, para algumas excepções. “A peste pode ser tratada com antibióticos se for detectada cedo. No entanto, algumas das estirpes da doença encontradas em Madagáscar são resistentes a estes antibióticos. A longo prazo, a vacina seria uma solução.”