Petrolífera Total reduz força de trabalho em Moçambique
11 de junho de 2021"Na sequência da decisão de 'força maior' devido à situação de segurança no norte de Cabo Delgado, a Total E&P Mozambique Area 1 (TEPMA1)", operador do projeto de gás (Mozambique LNG), "confirma que reduziu a sua força de trabalho", disse hoje à Lusa fonte da Total.
Segundo a mesma fonte, a redução foi feita "como discutido com as autoridades e em conformidade com a legislação moçambicana", sem adiantar mais detalhes - nomeadamente sobre o número de postos de trabalho em causa e de que forma foram reduzidos.
A empresa reagia a testemunhos ouvidos pela Lusa por parte de trabalhadores diretamente contratados pela Total, segundo os quais "junho é o último mês em que a empresa paga vencimento".
A redução surge depois de a empresa e firmas subcontratadas terem retirado todo o pessoal do local do projeto, na península de Afungi, durante a semana que se seguiu ao ataque em 24 de março à vila de Palma - situada a cerca de 10 quilómetros.
O consórcio do projeto de gás natural liquefeito contava ter nesta altura cerca de 6.000 trabalhadores no local de implantação do projeto, entre funcionários diretos e subcontratados, a larga maioria moçambicanos. Do investimento de 20 mil milhões de dólares (16,5 mil milhões de euros) - o maior investimento privado em África -, previa-se canalizar 12,5% para empresas locais durante a construção.
Perdas elevadas
Mas o cenário promissor ficou também suspenso: a CTA - Confederação das Associações Económicas, maior associação patronal do país, estima que as perdas do setor empresarial com a suspensão do projeto de gás (após o ataque a Palma) ascendam a 148 milhões de dólares (122 milhões de euros).
Em 26 de abril, a Total acabou por fazer uma declaração de força maior, ou seja, assumindo-se "incapaz de cumprir as suas obrigações em resultado da severa deterioração da situação de segurança em Cabo Delgado, um assunto que está completamente fora do controlo da Total".
Jean-Pierre Sbraire, diretor financeiro do projeto, referiu que o projeto está atrasado "pelo menos um ano" - ou seja, o arranque da exploração e exportação de gás natural não deverá acontecer antes de 2025.
Grupos armados aterrorizam a província desde 2017, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo jihadista Estado Islâmico. Há mais de 2.800 mortes segundo o projeto de registo de conflitos ACLED e 714.000 deslocados de acordo com o Governo moçambicano.