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Polícia angolana vai investigar morte de médico em Luanda

Lusa | tms
8 de setembro de 2020

A polícia de Angola anunciou uma sindicância para averiguar as circunstâncias da morte do médico levado para uma esquadra por não usar máscara, no contexto da Covid-19. Caso gera indignação geral da sociedade.

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Foto: AFP/O. Silva

"Não foi uma invenção dos nossos agentes, eles estavam no cumprimento do seu dever, afirmou o comandante da polícia de Luanda, Eugénio Fernando Cerqueira, em conferência de imprensa esta segunda-feira (07.09).

Este responsável explicou que o médico foi levado para a esquadra para "que fossem cumpridas as formalidades", nomeadamente o levantamento do auto de notícia para posterior pagamento da multa, e reafirmou que a interpelação foi feita no âmbito do decreto que determina as medidas de exceção em vigor durante a situação de calamidade devido à Covid-19.

Sílvio Dala, de 35 anos, foi interpelado pela polícia por não usar mascara facial no interior da viatura que conduzia e onde seguia sozinho. Segundo Eugénio Cerqueira, o médico não foi colocado numa cela e a morte ocorreu a caminho do hospital, depois de Sílvio Dala se ter sentido mal e ter caído, uma versão contrariada pelo Sindicato Nacional dos Médicos de Angola, que já admitiu avançar com um processo judicial contra a polícia devido à morte do seu associado.

Investigação

O comandante da polícia afirmou que já foi instaurado um inquérito pela Procuradoria-Geral da República, que "está a seguir os seus trâmites", e que caberá aos órgãos competentes de justiça determinarem se "houve alguma situação menos correta" por parte dos agentes que interpelaram Sílvio Dala.

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Foto: AFP/O. Silva

Eugénio Cerqueira adiantou que esta intervenção "não foi um ato isolado" e que já foram multados e sancionados disciplinarmente cerca de 19 agentes por mau uso da máscara em Luanda.

Questionado sobre a marcha de protesto convocada pelos médicos para sábado, afirmou que a polícia ainda não foi notificada. "Se formos notificados e essa maracha cumprir com os requisitos da lei (...) quem somos nós para impedir? Temos de proteger essa manifestação, é normal que as pessoas se manifestem", sublinhou.

Indignação

A morte do médico, no dia 1 de setembro, suscitou comoção em Angola e críticas por parte de organizações dos direitos humanos e personalidades angolanas que usaram as redes sociais para exprimir o seu repúdio, como o músico e ativista Luaty Beirão, o cantor Anselmo Ralph e as filhas do ex-Presidente José Eduardo dos Santos, Isabel dos Santos e Welwitschea "Tchizé" dos Santos.

Através da plataforma Twitter, Luaty Beirão convocou esta segunda-feira (07.09) uma ação de protesto no Largo da Independência, em Luanda. "A minha filha viu-me a preparar o meu cartaz e pediu papelão para fazer o dela. A hora é esta. A gente vai para o simbolismo, mas o que vai lhes levar lá é sempre uma incógnita. A caminho do Largo da Independência", escreveu Luaty Beirão, publicando uma foto de um cartaz onde se lia "Prender, matar, cumpra-se! #PEDEPARASAIR".

Luaty Beirão partilhou também um apelo feito pelo ativista Timóteo Miranda, que pediu a realização, às 19:00 (mesma hora de Lisboa) de 11 de setembro, de um "panelaço e buzinão". "Quem estiver em casa bate as panelas e as tampas, quem estiver no trânsito buzina forte. Não custa nada. Pelos nossos irmãos que são vítimas o tempo todo", escreveu Timóteo Miranda.

Por seu turno, "Tchizé" dos Santos escreveu também uma mensagem na rede Facebook sobre "o brutal assassinato de um médico numa esquadra de polícia em Angola".

"Claramente não era um cidadão armado ou que representasse perigo ao ponto de ser agredido até à morte", escreveu "Tchizé" dos Santos, acrescentando que "Angola e´ um país onde há´ uma gritante falta de profissionais de saúde".