Polícia impede manifestação em Luanda
4 de fevereiro de 2021Vários manifestantes com ferimentos graves estão a ser assistidos no Hospital Américo Boa Vida em Luanda. O banco de urgência está sob forte aparato policial.
Cinco manifestantes deram entrada no hospital e mais estariam a caminho, adiantou uma fonte da unidade de saúde, que pediu o anonimato.
Dezenas de jovens foram esta quinta-feira (04.02) para as ruas de Luanda exigir alternância política e pedir a responsabilização criminal dos agentes que atingiram mortalmente várias pessoas no sábado passado no setor de Cafunfo, província da Lunda Norte, durante uma manifestação pacífica.
"Exigimos justiça em Cafunfo", lia-se num dos cartazes dos manifestantes na capital angolana. "MPLA, partido dos assassinos", dizia outro.
Repressão policial
Para o local da manifestação foram destacados agentes a cavalo e a brigada canina.
As forças de segurança impediram os manifestantes de avançar até ao Largo 1.º de maio, agredindo-os à bastonada e lançando gás lacrimogénio.
"Fomos até aos Congoleses pacificamente e a Polícia de Intervenção Rápida (PIR) apareceu e começou a lançar gás lacrimogéneo e depois começaram disparar balas reais", explicou um dos manifestantes, Lourenço Ndombolo. "Dispersámo-nos, entrámos nos bairros e começaram a perseguir-nos. Infelizmente, como há traidores entre o povo angolano, havia sempre pessoas a trair a nossa posição."
Há relatos de que dois manifestantes foram baleados: "Um foi levado ao centro médico do Beiral e outro ao Américo Boa Vida. Infelizmente, não conseguimos entrar em contacto porque os telefones estão desligados", afirmou Ndombolo.
Pelo menos 20 pessoas foram detidas durante o protesto desta quinta-feira. Algumas delas não eram manifestantes, estavam apenas a assistir ao protesto. De acordo com o ativista Lourenço Ndombolo, a polícia soltou alguns detidos fora da cidade de Luanda.
O protesto decorreu no dia em que Angola comemora 60 anos desde o início da luta de libertação nacional. Os jovens dizem estar cansados da governação do MPLA, que já dura há 45 anos. Para eles, o partido liderado pelo Presidente João Lourenço já não tem nada para oferecer ao povo de Angola.
"Não queremos mais MPLA. Se o MPLA continuar a matar, também vamos preferir morrer porque os nossos antepassados também entregaram as suas almas para libertar este país. A nossa manifestação é pacífica. É a polícia que causa a desorganização", afirmou um manifestante.