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Políticos angolanos penalizam Sonangol por interesses pessoais

10 de janeiro de 2013

O blog Maka Angola, do ativista Rafael Marques, denunciou o sucesso da empresa Pumangol, que em "apenas" dois anos se tornou o mais influente intermediário na venda de petróleo e na distribuição de combustíveis no país.

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Oleoduto no Soyo, Angola
Oleoduto no Soyo, AngolaFoto: DW/R. Krieger

A empresa Pumangol, segundo o blog, é de capitais mistos: fazem parte a multinacional Puma Energy, subsidiária da suíça Trafigura, e a parceira angolana da Trafigura, a Cochan S.A..

Ainda de acordo com o Maka Angola, a Trafigura tem um contrato de permuta com a petrolífera estatal angolana Sonangol: recebe petróleo (não se sabe quanto) e, em troca, envia derivados de petróleo para o consumo domésttico angolano.

A polémica que envolve a Pumangol, e por consequência a suíça Trafigura, é que existe uma teia de interesses por trás do "sucesso" dessas empresas em Angola. O blog Maka Angola pede uma investigação aprofundada sobre as relações da Pumangol com o círculo presidencial, já que este sucesso acontece "num país classificado entre os 15 piores do mundo para se fazer negócios".

A DW África entrevistou o jornalista, ativista e diretor do Blog Maka Angola, Rafael Marques, sobre as denúncias e a rede de interesses envolvendo a empresa Trafigura e figuras de alto escalão do Governo angolano:

DW África: Concretamente, como se articula essa teia de interesses envolvendo a Pumangol e a angolana Cochan S.A.?

Rafael Marques (RM): A Cochan foi criada pelo atual vice-Presidente da República, Manuel Vicente, na altura em que ele era diretor-geral e presidente do Conselho de Administração da Sonangol. A empresa tem como sócios Manuel Hélder Vieira Dias "Kopelipa" e o general Leopoldino Fragoso, que durante muitos anos foi o chefe de comunicações do Presidente da República, José Eduardo dos Santos, e neste momento é o principal parceiro e conselheiro do general Kopelipa. Essas três figuras criaram essa empresa sem qualquer historial económico, simplesmente como uma companhia de fachada que aparece com 51% desse investimento avaliado em quase um bilião de dólares em Angola. Então, como pode uma empresa sem nenhum historial empresarial, criada da noite para o dia, encontrar capital financeiro e credibilidade para se juntar a uma multinacional como a Trafigura que opera em muitos países do mundo?

DW África: Qual é o papel da Trafigura nesse contexto, ou no caso, da sua subsidiária que é a Puma Energy, que por sua vez tem participação na Pumangol?

Rafael Marques tem denunciado constantemente casos de corrupção e tráfico de influência em Angola,
Rafael Marques tem denunciado constantemente casos de corrupção e tráfico de influência em AngolaFoto: Maka Angola

RM: O papel desta empresa basicamente é de facilitar o branqueamento de capitais por parte dos dirigentes angolanos e ao fazerem investimentos conjuntos dão alguma credibilidade e permitem até à Sonangol comprar 20% das ações da Puma Energy a nível internacional. E eventualmente os sócios angolanos estão a usar fundos do Estado provavelmente provenientes da Sonangol para fazer estes negócios e obter percentagens astronómicas em negócios nos quais não gastam um chavo, usando simplesmente o seu poder político.

DW África: O uso de fundos da Sonangol, como o senhor desconfia, está provado?

RM: É muito simples, os acordos são firmados com a Sonangol, porque a Trafigura tem um acordo através da Puma Energy em que compram petróleo a Sonangol para revender no mercado internacional, refinam o petróleo e vendem-no a Sonangol, e são contratos opacos. Então o dinheiro que circula entre a Trafigura e Angola é basicamente o dinheiro proveniente da Sonangol.

DW África: Qual seria a vantagem da Trafigura?

RM: A vantagem é que com este acesso não tem competição. Entrou no mercado angolano e a esse ritmo em dois anos será o maior distribuídor de combustíveis, superando a própria Sonangol. E é isso que Manuel Vicente e o general Kopelipa querem, desejam ser os principais beneficiários do petróleo. Não podendo fazer desvios de biliões de dólares diretamente da Sonangol, então quebram o monopólio da Sonangol transferindo os privilégios de uma empresa estatal para uma privada da qual são acionistas.

Relativamente a uma reação da Trafigura sobre o assunto, a empresa suíça, depois de uma solicitação, não comentou a matéria.

Autora: Renate Krieger
Edição: Nádia Issufo / António Rocha

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