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Porque é tão relevante uma mulher africana à frente da OMC?

Fred Muvunyi
16 de fevereiro de 2021

Ngozi Okonjo-Iweala faz história ao tornar-se a primeira mulher africana e negra a liderar a OMC. No entanto, muitos colegas garantem que a nigeriana leva mais do que apenas "diversidade e inclusão" para a cena mundial.

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Foto: Gian Ehrenzeller/KEYSTONE/dpa/picture alliance

A economista Ngozi Okonjo-Iweala teve um amplo apoio dos membros da Organização Mundial do Comércio (OMC) - incluindo China, União Europeia, União Africana, Japão e Austrália – para ser anunciada esta segunda-feira (16.02) como diretora-geral da instituição. A nigeriana substitui o brasileiro Roberto Azevedo, que se demitiu um ano antes do previsto, no final de agosto de 2020.

A demissão de Azevedo ocorreu depois de a OMC estar envolvida na escalada da disputa comercial entre os Estados Unidos e a China. Okonjo-Iweala tinha como concorrente à vaga a ministra do Comércio da Coreia do Sul, Yoo Myung-hee, que retirou a sua candidatura na sexta-feira (12.02).

Okonjo-Iweala formou-se em Harvard e tem doutoramento no Massachusetts Institute of Techology. A economista está a presidir a direção da Gavi - uma aliança global de vacinas instrumentais para garantir que os países em desenvolvimento tenham acesso aos imunizantes contra a Covid-19.

Embora Ngozi Okonjo-Iweala faça história ao tornar-se a primeira mulher africana e negra a liderar a OMC, Amara Nwankpa diz que a sua colega traz mais do que apenas "diversidade e inclusão" para a cena mundial.

"Estou optimista que o seu impacto no comércio global será positivo, dado que os seus antecedentes sugerem que está apaixonadamente empenhada na redução da desigualdade, pobreza e corrupção em todo o mundo", disse Nwankpa, diretora da Iniciativa de Políticas Públicas da Fundação Shehu Musa Yar'Adua, uma organização sem fins lucrativos nigeriana que está empenhada em promover a unidade nacional e a boa governação.

Nwankpa diz que os antecedentes da economista demonstram que "ela traz para este trabalho competências em negociações internacionais e capacidade de liderança para enfrentar os principais desafios que o mundo enfrenta atualmente. É exatamente a pessoa de que o mundo precisa ao leme do comércio internacional nestes tempos turbulentos", acrescentou.

Roberto Azevedo, Generaldirektor der Welthandelsorganisation (WTO)
Roberto Azevedo pediu demissão durante a guerra comercial entre China e EUAFoto: Reuters/L. Cortes

Da Nigéria para o mundo

Durante o seu segundo mandato como ministro das finanças, Okonjo-Iweala foi "creditada com o desenvolvimento de programas de reforma que ajudaram a melhorar a transparência governamental e a estabilizar a economia", de acordo com a revista de negócios norte-americana Forbes, que a classificou no 48º lugar no top 50 do ranking "Power Women" de 2015.

Os ex-colegas da economista acreditam que ela está bem preparada para o desafio. "Ngozi é uma das pessoas mais qualificadas para esse cargo. Desejo-lhe felicidades sobre a sua decisão final", disse Shamsudeen Usman, antigo ministro nigeriano do Planeamento Nacional, ouvido pela DW África.

Okonjo-Iweala e Usman foram colegas como ministros sob a presidência do Presidente nigeriano Goodluck Jonathan em 2011. Antes de assumir a pasta, Okonjo-Iweala demitiu-se do Banco Mundial (BM), onde serviu durante 25 anos.

Numa nota interna dirigida aos funcionários do BM, a 8 de julho de 2011, a qual a DW teve acesso, a direção da instituição reconhece o serviço relevante da economista durante a supervisão da atução do banco em  África, Ásia do Sul, Europa e Ásia Central para ajudar os países prejudicados pelos preços elevados e voláteis dos alimentos.

"Como sabem, com a liderança de Ngozi, criámos um fundo de resposta à crise alimentar para permitir uma assistência rápida aos países necessitados. Já ajudou mais de 40 milhões de pessoas em 44 países", escreveu na altura Bob Zoellick, presidente do Banco Mundial.

Washington | Präsident Trump Statement Operation Warp Speed
Administração Trump não queria a economista nigeriana à frente da OMCFoto: Mandel Ngan/AFP/Getty Images

Não foi unanimidade

Okonjo-Iweala não era a candidata preferida pela administração de Donald Trump nos Estados Unidos, o que tinha complicado o processo de escolha. A eleição de um novo diretor-geral requer o consenso de todos os membros da OMC - um organismo com sede em Genebra, encarregado de promover o comércio livre.

Okonjo-Iweala tornar-se-á a primeira africana e a primeira mulher a ocupar a posição cimeira na OMC. "Vejo a sua nomeação como uma validação da competência e das capacidades de liderança das mulheres africanas, e da excelência das mulheres africanas, apesar dos obstáculos e obstáculos sistemáticos que enfrentam", disse Fadumo Dayib, a primeira mulher candidata à presidência da Somália, ouvida pela DW.

Dayib acrescentou que a escolha de Okonjo-Iweala é um sinal de que "a maré está a virar a favor de mulheres competentes e já não era sem tempo para que isso acontecesse".

O economista Tunji Andrews concorda com Dayib. Para o nigeriano, a comunidade internacional finalmente percebeu que os africanos podem sentar-se à mesa com poderes globais. "Muitas pessoas em todo o mundo vão começar a dizer: 'Vamos colocar mais africanos em tais papéis, não apenas papéis de manutenção da paz, mas papéis de capacidade intelectual e papéis de pedigree'".

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