Posse de Chapo manchada por mortes em protestos
15 de janeiro de 2025A plataforma eleitoral Decide denunciou que pelo menos oito pessoas morreram em manifestações hoje, três na província de Maputo, duas na cidade de Maputo, sul do país, e três em Nampula, no norte.
As eleições gerais em Moçambique foram altamente contestadas pela oposição e pela sociedade civil. Os manifestantes não reconhecem a vitória de Daniel Chapo nas presidenciais e mais de 300 pessoas morreram em protestos pós-eleitorais, desde outubro, segundo a plataforma Decide.
Em entrevista à DW, o diretor da plataforma, Wilker Dias, defende que o fim da violência "poderá ser possível, se tivermos um Venâncio Mondlane sentado à mesa do diálogo" e que o próprio partido FRELIMO deve "encontrar alguns mecanismos para poder resolver a situação que já está a tornar-se alarmante".
Segundo Dias, até que isso aconteça, o Governo de Chapo "estará sentado sobre uma bomba-relógio".
DW África: Porque é que continua a haver violência policial no país?
Wilker Dias (WD): Acho que é o reflexo da intolerância policial que é existencial no nosso país. É a falta de tratamento e segmento daquilo que é o protocolo da própria polícia em situações do género, em situações de poder lidar com questões ligadas a manifestações, por um lado.
Segundo, também se deve à falta de observância do que deve ser feito para apaziguar os ânimos. Isto poderá ser possível, se tivermos um Venâncio Mondlane sentado à mesa do diálogo de forma calma.
A situação pode até acalmar-se por esses dias, mas estaremos perante um Governo que estará sentado sobre uma bomba-relógio. Quando a população decidir acioná-la e o Governo levantar-se, poderemos ter manifestações a qualquer momento. E se Daniel Chapo quiser governar de forma certeira, já que foi escolhido pelo Conselho Constitucional, automaticamente deve pautar-se pelo diálogo, porque se não não vai conseguir governar em paz. Vai ser praticamente impossível em alguns momentos.
DW África: Está a dizer que isso vai depender muito do que Daniel Chapo fará nos próximos dias. É ele quem tem que avançar no sentido de pôr fim à violência em Moçambique?
WD: Sim. Acho que não é só Daniel Chapo que, neste momento, é a figura que deve pautar por encontrar algum mecanismo de diálogo. É também o partido FRELIMO que, neste momento, também deve, através das suas bases e talvez da sua mais alta hierarquia, encontrar alguns mecanismos para poder resolver esta situação que já está a tornar-se alarmante a todos os níveis.
DW África: Com a tomada de posse de Daniel Chapo como Presidente de Moçambique caíram por terra as reivindicações de Venâncio Mondlane? Ou haverá ainda espaço para ele trazer a verdade eleitoral?
WD: Não sei, estamos num período em aberto. O processo de tomada de posse não é o fim das coisas. Temos a tomada de posse, mas em nenhum momento estamos a verificar os moçambicanos a desistirem, na totalidade, deste processo.
Temos, neste exato momento, ainda ações que estão a decorrer a nível internacional e não é o fim.
À sociedade civil o que mais interessa é o facto de que estamos a verificar diversas violações, principalmente dos direitos humanos. Portanto, a luta é esta: que tenhamos um país que cumpra essas normas.