PR do Ruanda nega crimes cometidos por estrangeiros na RDC
19 de maio de 2021Numa entrevista ao canal televisivo France 24 e à estação Rádio France France Internationale (RFI), Paul Kagame disse que "não houve crime" cometido no leste da RD Congo.
A RD Congo, maior país da África Subsaariana, foi palco de duas guerras, entre 1996-1997 e 1998-2003, com caraterísticas mortíferas e que desestabilizaram as regiões fronteiriças dos Kivus.
O país esteve próximo de se separar durante estes conflitos, que envolveram um elevado número de milícias e exércitos de vários países da região, em particular de Ruanda e Uganda.
Contactado pela AFP, o porta-voz do Governo congolês, Patrick Muyaya, não reagiu de imediato.
"Paul Kagame nunca foi tão longe"
De acordo com o deputado Juvenal Munubo, relator da comissão de Defesa e Segurança da Assembleia congolesa, a posição de Kagame "não é nem mais nem menos que uma negação dos crimes cometidos na RD Congo".
"Paul Kagame nunca foi tão longe no seu modo de provocar o povo congolês", referiu o deputado, apoiante do Presidente, Félix Tshisekedi, que disse estar "surpreendido com o silêncio" das autoridades congolesas.
O antigo ministro da juventude Billy Kambale, assinalou que entre 1996 e 2002 os exércitos de "Ruanda, Uganda e Burundi empreenderam o terror e campanhas para limpar a população civil".
"Observações insultuosas e denegridoras"
O opositor Martin Fayulu disse que o povo "não aceitará qualquer negação dos crimes cometidos na RD Congo", lamentando que a população esteja a ser "ridicularizada devido à ausência de uma liderança legítima e forte" no país.
O movimento cidadão Luta pela Mudança (Lucha) considerou que "as observações insultuosas e denegridoras de Kagame mancham a memória dos milhares de vítimas congolesas".
Um antigo ministro próximo do ex-Presidente Joseph Kabila, que não quis ser identificado, considerou "espantoso" ouvir as declarações de Kagame, assegurando que o chefe de Estado do Ruanda "sabe muito bem que foram cometidos crimes graves por tropas ruandesas, ugandesas e burundianas".
Na entrevista, Kagame acusou também o médico e Prémio Nobel da Paz Denis Mukwege, que tem estado na linha da frente para o reconhecimento dos crimes cometidos nas duas guerras no Congo, de ser "um instrumento de forças que não se veem".
Junto da AFP, Bienvenu Matumo, um líder do Lucha, considerou que Kagame "não pode dar-se ao luxo" de chamar fantoche a Mukwege, apelando para uma reação oficial por parte do Governo.