Presidente da Gâmbia rejeita derrota nas presidenciais
10 de dezembro de 2016Num discurso transmitido pela televisão, na noite de sexta-feira (09.12), o Presidente em exercício da Gâmbia anunciou que "não vai aceitar os resultados das eleições presidenciais". Yahya Jammeh recua assim em relação ao que afirmara anteriormente. Depois do anúncio da vitória de Adama Barrow, Jammeh reconheceu a derrota e anunciou estar disponível para uma transição pacífica de poder.
"Da mesma forma que aceitei os resultados acreditando que a Comissão Eleitoral Independente era independente, honesta e credível, rejeito [agora] os resultados na sua totalidade", afirmou Jammeh. Investigações ao escrutínio de 1 de dezembro revelaram "erros inaceitáveis" por parte da Comissão Eleitoral Independente, justificou o Presidente gambiano.
"Vamos voltar às urnas, porque quero ter a certeza de que todos os gambianos votam sob uma comissão imparcial, independente, neutral e livre da influência internacional", acrescentou Jammeh, há 22 anos no poder.
Face ao anúncio do Presidente gambiano surge o receio de instabilidade no país da África Ocidental. Informações dão conta que soldados colocaram sacos de areia em pontos estratégicos da capital, Banjul, na sexta-feira, o que gera inquietação no seio da população, que já se tinha abastecido com alimentos antes da votação, com medo de instabilidade.
Segundo resultados oficiais, Adama Barrow venceu as eleições presidenciais com 43.29% dos votos, enquanto Yahya Jammeh obteve 39.64%. O escrutínio teve uma participação de 59% dos eleitores.
Depois do anúncio dos resultados, o atual chefe de Estado reconheceu a derrota num discurso transmitido pela televisão - para surpresa geral - desencadeando celebrações um pouco por todo o país.
Críticas à decisão de Jammeh
A porta-voz da oposição da Gâmbia, Isatou Touray, criticou nas redes sociais o anúncio de Jammeh, considerando-o uma "violação da democracia”. Isatou Touray apelou à população que se mantenha "calma, lúcida, vigilante e que não recue".
O vizinho Senegal também condenou os últimos desenvolvimentos. Em comunicado, o ministro senegalês dos Negócios Estrangeiros, Mankeur Ndiaye, afirmou que "rejeita e condena fortemente esta declaração" e "exige que o Presidente cessante respeite sem condições a escolha democrática livremente expressa pelo povo da Gâmbia", que "organize a transmissão pacífica do poder" e que "garanta a segurança e a integridade física do Presidente eleito", Adama Barrow.
O Governo do Senegal apelou ainda à Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), à União Africana e às Nações Unidas para que, em conjunto, adotem medidas que salvaguardem os resultados das eleições na Gâmbia e respeitem a soberania do povo.
Em comunicado, o Departamento de Estado norte-americano, considerou a decisão de Yahya Jammeh "inaceitável" e uma "tentativa atroz de minar um processo eleitoral credível e de ficar no poder ilegitimamente."
Yahya Jammeh governa a Gâmbia com mão de ferro desde que chegou ao poder através de um golpe de Estado em 1994. O seu regime é acusado de prender, torturar e matar os seus opositores, segundo grupos de defesa dos direitos humanos.