Primeira visita de um Chefe de Governo alemão a Angola
11 de julho de 2011Na realidade, nos últimos anos, os Chefes de Estado e de Governo europeus têm evitado deslocar-se a Luanda. Mas Merkel aceitou o convite do Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, feito aquando da sua estadia em Berlim em 2009. Angola é um país em franco crescimento económico e exportador de petróleo, o que o torna sobremaneira atrativo.
Luanda é uma das três escalas do périplo africano da chanceler federal. Para o Secretário de Estado no Ministério da Economia alemão, Peter Hintze, esta deslocação insere-se perfeitamente no novo Conceito para África recentemente promulgado pelo Governo alemão: "As questões que tocam uma boa parceria, a economia, a energia e as matérias-primas são essenciais para o nosso Conceito para África. Através dele pretendemos abrir-nos ainda mais ao nosso continente vizinho. O nosso objetivo é uma parceria equitativa", disse o político conservador.
As relações económicas são a prioridade
Angela Merkel não tem muito tempo para dedicar a esta parceria. A sua estadia em Luanda resume-se a 24 horas. Na manhã de 13 de julho, a chanceler deverá juntar-se a empresários reunidos num congresso económico num hotel da capital. Após a abertura do fórum, às 9:30 horas, a Chefe do Governo seguirá para o Palácio Presidencial para um encontro com o Chefe de Estado, José Eduardo dos Santos. Segundo fontes governamentais, em seguida, deverá realizar-se um debate com estudantes de jornalismo. Está prevista também a assinatura de um acordo cultural e de uma declaração de intenção sobre a cooperação estratégica bilateral.
O objetivo primordial é reforçar as relações económicas. Após um ano recorde em 2008, o comércio entre os dois países sofreu com a crise financeira internacional. A quebra dos preços do petróleo causou dificuldades de pagamento temporárias ao Governo de Angola. Durante alguns meses, Luanda não pagou as suas contas pontualmente. Em vez das taxas de crescimento anuais de 15% ou mais, a que os angolanos se tinham habituado, a economia nacional estagnou.
Entre 2008 e 2010, as exportações alemãs para Angola recuaram em um terço: de 388 para 263 milhões de euros. A importação de produtos angolanos pela Alemanha caiu mesmo para metade, de 460 para 228 milhões de euros.
O comércio bilateral retoma balanço
Mas desde o início deste ano regista-se um desenvolvimento positivo do comércio bilateral. Para grande satisfação também do Ministro da Economia angolano, Abrahão Pio dos Santos Gourgel. O político tem bons contactos pessoais na Alemanha, tendo estudado Ciências Económicas em Berlim Leste nos tempos da extinta República Democrática Alemã. O ministro defende que Angola pode desenvolver uma boa cooperação com a Alemanha reunificada, sobretudo na forma de parceiras empresariais entre angolanos e alemães: "A transmissão das experiências e a promoção de uma cultura empresarial forte são valências da economia alemã", disse Santos Gourgel.
Não obstante, as empresas alemãs ainda experimentam alguma dificuldade em se fixar em Angola. Geralmente, é às suas concorrentes brasileiras, portuguesas ou chinesas que são adjudicados os grandes contratos na construção civil. Enquanto as licenças de prospeção de petróleo são atribuídas a consórcios norte-americanos, franceses e brasileiros.
Direitos humanos poderão ser tema dos encontros
As empresas alemãs ocupam os nichos do mercado, por exemplo na construção subterrânea, no planeamento de redes de água e no fornecimento de máquinas para a extração de matérias-primas. Não obstante, o diretor da delegação da indústria alemã em Luanda, Ricardo Gerigk, considera que há um potencial a desenvolver: "A produção de petróleo já atingiu quase dois milhões de barris por dia em Angola. O que é muito. Trata-se do segundo maior produtor de petróleo em África, depois da Nigéria." Mas, continua Gerigk, "a Nigéria tem 150 milhões de habitantes, enquanto Angola tem 17 milhões. Ou seja, a riqueza é um facto neste país." Gerigk salienta ainda o crescimento de uma classe média angolana que não está tão fortemente ligada ao setor militar "e que, por isso, investe na produção".
Angela Merkel chega a Luanda no dia 12 de julho. Noutras ocasiões, como no diálogo com o Governo chinês, a economia não foi o único tema. A chanceler não descurou também questões ligadas aos direitos humanos e à democracia. Os observadores vão seguir com interesse o seu posicionamento num contexto em que o país apresenta sérios défices. Depois de Mouammar Kadhafi na Líbia, José Eduardo dos Santos é o presidente africano há mais tempo no poder. E em quase 32 anos de presidência, José Eduardo dos Santos nunca foi eleito.
Autor: Johannes Beck
Edição: Cristina Krippahl / Marta Barroso