Prioridade da ONU é proteger a população civil no Congo
27 de agosto de 2013A pausa deve-se a uma ruptura no aprovisionamento de munições por parte dos rebeldes do M23, o que permitiu que em Goma a circulação fosse retomada normalmente e todo o comércio reabrisse portas.
A acalmia surge dias depois de obuses disparados a partir de posições do M23 terem atingido a periferia de Goma, a capital do Kivu do Norte, na última semana, provocando várias vítimas, enquanto uma manifestação popular em Goma, no fim de semana, resultou na morte de dois civis.
A Missão da Organização das Nações Unidas para a Estabilização na República Democrática do Congo (MONUSCO) abriu no domingo (25.08) um inquérito sobre a morte desses manifestantes que denunciavam "a passividade da MONUSCO face à rebelião do M23".
ONU envolvida na morte de civis
Os capacetes azuis uruguaios foram acusados de terem morto dois civis quando dispararam contra a multidão, informações rejeitadas pelas autoridades de Montevideo.
O responsável da MONUSCO, o alemão Martin Kobler, disse em entrevista à DW África que a população de Goma espera da missão da ONU muito mais do que é possível, embora a atual situação no leste do Congo democrático seja “inaceitável” e “muito tensa”.
“Acabo de passar três dias na região para a instalação das tropas da MONUSCO contra as posições do M23. Estive pessoalmente na frente de combate e pude observar as intervenções coordenadas das nossas tropas e as do exército congolês nos confrontos onde são utilizados artilharia, helicópteros e outros meios militares de intervenção. Não é normal nem aceitável que grupos armados ataquem a cidade de Goma utilizando morteiros e roquetes”, critica o responsável alemão.
“Fui claro desde o início: dei ordens ao comandante da MONUSCO para fazer tudo para proteger as populações. A nossa principal tarefa é proteger a população civil”, asseverou.
Para Martin Kobler, a população de Goma está impaciente, sobretudo porque há quase duas décadas que o leste da República Democrática do Congo (RDC) vive envolvo entre conflitos armados.
"Nós, as Nações Unidas, fazemos tudo o que está ao nosso alcance, mas a MONUSCO não tem uma solução mágica para todos os problemas no leste da RDC”, justifica.
O chefe da missão da ONU na RDC lamentou por outro lado as mortes de civis no último fim de semana. “Não sabemos quem disparou. Por isso, iniciámos imediatamente uma investigação em cooperação com as autoridades congolesas para apurarmos as responsabilidades”, garantiu.
Também com o objetivo de recolher mais informações sobre o incidente, o ministro congolês do Interior e da Descentralização, Richard Muyej Mangez, deslocou-se a Goma liderando uma missão governamental. Segundo o político, o Governo de Kinshasa está determinado em acabar com as dificuldades das populações do Kivu do Norte.
Missão da ONU na RDC há 14 anos
A força da ONU, presente na região congolesa desde 1999, foi criticada por não ter impedido o M23 de ocupar Goma, em novembro de 2012.
Cerca de 17 mil capacetes azuis, entre militares da Índia, Paquistão, Gana e Uruguai, foram estacionados no Kivu do Norte. Trata-se da missão mais relevante - em termos efetivos - de manutenção de paz da ONU.
Em março, o Conselho de Segurança desta organização criou uma brigada de intervenção, composta por três mil homens, com um mandato mais ofensivo, precisamente para reforçar a MONUSCO.
O Movimento 23 de março, um grupo criado por rebeldes Tutsis, a etnia no poder no Ruanda, está ativo no Kivu do Norte, cuja capital é Goma, desde maio do ano passado. Kinshasa e a ONU acusam o Ruanda de apoiar esta rebelião, algo que as autoridades de Kigali sempre desmentiram.