Zambézia: Produção de carvão acelera destruição florestal
27 de abril de 2017Pelo menos 40 mil hectares de florestas já foram destruídos desde 2015 na província da Zambézia, no centro de Moçambique. Esta destruição está diretamente relacionada à produção de carvão vegetal, que é a principal fonte de renda de muitas famílias da região, segundo apontam ambientalistas, que alertam para a necessidade de uma nova atividade económica nas comunidades. O governo local reconhece o problema, mas não avança nenhuma medida para a preservação do ambiente.
Nos distritos de Namacurra e Nicoadala, a produção de carvão vegetal é uma alternativa rentável para a maioria dos jovens e adultos que estão desempregados. No entanto, a maioria desconhece os riscos ambientais causados pelo corte das árvores.
O jovem Paulo Junqueiro, de 25 anos, vive com a família em Nicoadala. Para sustentar os cinco filhos, ele produz carvão e o transporta numa bicicleta até a cidade de Quelimane, numa distância de 45 quilómetros.
"Não há trabalho"
Ele explica como funciona a produção do carvão: "Abatemos as árvores e esperamos uma semana para os troncos secarem um pouco. Em seguida, colocamos os troncos numa fogueira durante cinco dias e assim temos o para o carvão pronto para ser comercializado".
Paulo diz que já está acostumado com a atividade e que na região não há outro trabalho que possa fazer para ganhar dinheiro, senão a produção de carvão a partir das árvores que abate.
"Vivo de carvão, não tenho emprego. E se o Governo proibir o que estamos a fazer, não temos como sobreviver", afirma o jovem produtor de carvão.
Além de ser uma alternativa rentável para os desempregados, o carvão vegetal e a lenha são utilizados pela população para cozinhar. O fogão a gás, segundo as comunidades, custa caro e não é a realidade da maioria das famílias da região.
É preciso uma alternativa
O ambientalista Bob Gumbe, da rede de organizações para a proteção do ambiente, mostra-se preocupado com o abate acelerado das árvores pelos produtores de carvão. Ele defende que a produção do carvão com base nas árvores abatidas seja proibida.
De acordo com Gumbe, é preciso alternativas para evitar que as florestas sejam destruídas. "Existem outras atividades que os produtores de carvão podem dedicar-se para conseguirem viver o dia a dia. E isso não vai criar embaraços aos cidadãos, porque poderão arranjar outros meios para as suas cozinhas", considera.
Mas a proibição da produção do carvão vegetal não é um tema que agrada a população local. Argentina Bernardo, uma compradora do carvão em saco, diz que não tem condições de ter um fogão a gás em casa: "Vamos cozinhar com o quê? Somos pobres, não vamos conseguir comprar fogões a gás", lamenta.
A DW África também entrevistou revendedoras de carvão no mercado do Sococo, em Quelimane. Uma delas, Olga Ernesto, afirmou que depende desta atividade. "Vendemos carvão e conseguirmos suportar as despesas da casa. Mesmo que o Governo proíba, não há como", diz a comerciante.
Governo local reconhece destruição
A Direção Provincial da Agricultura da Zambézia reconhece que a destruição de florestas na província já está numa fase avançada em muitas áreas. A informação foi avançada pelo chefe do departamento de florestas, Eugénio Manhiça, que, no entanto, não gravou a entrevista por falta de autorização superior.
Segundo ele, há oito meses era possível ver pequenas árvores na mata, mas que atualmente tudo desapareceu devido à ação dos produtores de carvão. As autoridades governamentais apontam ainda as florestas dos distritos de Mocuba, Maganja da Costa, Morrumbala como as mais destruídas na Zambézia.