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Mediadores deixam beligerantes a refletirem

Nádia Issufo26 de agosto de 2016

Pela segunda vez mediadores internacionais deixam Maputo. Antes disso solicitaram Governo e RENAMO uma reflexão sobre as propostas. Para Silvestre Baessa as propostas visam chamar também as partes a responsabilidade.

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Forças de segurança moçambicanas na província central de SofalaFoto: Getty Images/Afp/Ferhat Momade

Nesta quarta-feira (24.08) os mediadores internacionais da crise política moçambicana fizeram mais um interregno. Aos envolvidos eles pediram, por exemplo, a presença de observadores internacionais nos locais de confronto, fim das hostilidades e criação de um corredor desmilitarizado para que possam encontrar-se como o líder da RENAMO, a maior força da oposição, Afonso Dhlakama.

O trabalho dos mediadores deverá ser retomado a 12 de setembro. Até lá uma subcomissão deve continuar a discutir os pontos reivindicados pela RENAMO.

Sobre a condução destaS negociações a DW África entrevistou Silvestre Baessa, especialista moçambicano em boa governação.

DW África: São normais os interregnos dos mediadores em processos desta natureza?

Silvestre Baessa (SB): Sim, tomando em conta vários aspetos, desde a forma como são convidados a juntarem-se a este processo e a maneira como eles se organizaram em curto espaço de tempo. Só para perceber, são seis instituições diferentes que têm de facilitar o processo e que para tal precisam de perceber melhor o que separa as partes. Por outro lado, durante esse curto espaço de tempo, há questões de ordem logística para o funcionamento dessa mediação, que têm também um certo nível de legitimidade e que é importante ser construida por parte dos mediadores, ou que tem de ser atribuida pelos beligerantes e creio que tudo isso ainda não existe, ou seja, está tudo ainda numa fase de construção.

Porträt - Silvestre Baessa
Silvestre Baessa, especialista em boa governaçãoFoto: privat

DW África: Então quer dizer que as partes em conflito não fizeram "o trabalho de casa" em condições?

SB: Eu creio que sim, e tudo está a ser agora [feito] durante este período de mediação. Se notar, as equipas de mediação têm algum tempo de preparação, têm um domínio muito grande sobre o que separa as partes. E na base disso parece-me uma posição de maior solidez e preparação e maior legitimidade até de aproximar as partes. No nosso caso eu creio que nenhuma das partes terá efetivamente conversado. Repare, o Governo propôs três atores e a RENAMO também três, mas creio que não houve muito tempo para a RENAMO interagir com as partes que ela propõe para participar nesta mediação, a ponto de perceberem na essência o que a RENAMO quer, o que procura nesta mediação e o mesmo ocorre do lado do Governo. Então, a expetativa de qualquer moçambicano é que a presença dos mediadores poderia levar a um acordo rápido, mas tomando em consideração as condições que avancei, não creio que vamos ter um acordo definitivo a curto prazo. Poderemos é ter algumas concessões, como um possível cessar-fogo, mas um acordo definitivo ainda vai levar algum tempo muito por culpa destas dificuldades que ainda não foram ultrapassadas.

Dialog zwischen RENAMO und Regierung in Mosambik
O diálogo com mediadores nacionais não trouxe resultados satisfatóriosFoto: DW/L. Matias

DW África: Pela natureza das propostas feitas pelos mediadores, como por exemplo a presença de mediadores nos pontos de conflito, pode-se conlcuir que os mediadores estão a tentar atribuir responsabildades aos beligerantes?

SB: Sem dúvidas, não são os mediadores que fazem a paz, são as partes em conflito que fazem a paz. Os mediadores desempenham um papel importante que é de aproximar e abrir caminhos e janelas de oportunidades que não estão ainda devidamente exploradas para se chegar a essa paz desejada. E eu creio que é isso que os mediadores estão a dizer, que não estão aqui para dizer quem tem razão. Mas é preciso que haja também muito boa vontade, muito esforço das partes para que esse bom acordo seja alcançado.

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