Quénia: Protestos violentos após anúncio da vitória de Ruto
16 de agosto de 2022William Samoei Ruto foi nesta segunda-feira (16.08) declarado vencedor das presidenciais de terça-feira (09.08) passada no Quénia, tornando-se no 5.º chefe de Estado do país e sucedendo a Uhuru Kenyatta que, após cumprir dois mandatos, estava impedido de se recandidatar.
Ruto ganhou com 50,49% dos votos, segundo os resultados publicados esta segunda-feira pela comissão eleitoral do país. O segundo colocado, o ex-primeiro-ministro e líder da oposição Raila Odinga, obteve 48,85% dos votos.
Embora o país tenha permanecido calmo até agora, apesar da espera de dias pelos resultados, o ambiente tornou-se tenso nas últimas horas e a polícia foi destacada em algumas zonas do país, abaladas no passado por protestos e violência pós-eleitoral por vezes mortal.
Minutos após o anúncio dos resultados, começaram os protestos em vários bairros da capital Nairobi, como Mathare, Kayole e Kibera. Pneus foram incendiados para bloquear ruas e jovens atiraram pedras enquanto outros sopravam em vuvuzelas e assobios.
"Pirateiam o sistema e não querem dar transparência a estas eleições. É por isso que eu digo que não há paz, não há paz nenhuma. Não vamos ter paz", declarou um dos apoiantes do líder de Raila Odinga.
Parte da comissão eleitoral rejeita resultados
O anúncio da vitória de William Ruto nas presidenciais ficou também marcado por uma divisão na Comissão Eleitoral do Quénia. A vice-presidente do órgão, Juliana Cherera, anunciou que ela e outros três dos sete membros da comissão eleitoral rejeitavam os resultados.
"Pela natureza opaca do processo […] não podemos assumir a responsabilidade pelos resultados que vão ser anunciados", disse a Cherera, ladeada por outros três comissários, pedindo "calma” aos quenianos.
"As pessoas podem recorrer à Justiça, por isso pedimos aos quenianos que sejam pacíficos, porque o Estado de direito prevalecerá”, disse ainda, numa altura em que a tensão aumentava e as brigas eclodiam no centro onde a comissão eleitoral (IEBC) está a gerir os resultados.
Ruto promete "trabalhar com todos"
Na sua primeira reação, William Ruto, prometeu hoje trabalhar "com todos os líderes” políticos. "Trabalharei com todos os líderes [num país] transparente, aberto e democrático", disse.
Ruto acrescentou que "não há lugar para a vingança" e disse estar "totalmente consciente” de que o Quénia "está numa fase em que é preciso toda a gente no convés".
Noutros locais, milhares de quenianos saíram às ruas para festejar a vitória do vice-Presidente cessante, como em Eldoret, no Vale do Rift.
Milhares de pessoas reunidas durante horas em frente a um ecrã gigante festejaram no segundo em que foram pronunciadas as palavras "sete milhões de votos".
Devido aos temores de que as alegações de fraude eleitoral possam levar a cenas sangrentas como as que se seguiram às eleições presidenciais em 2007 e 2017, a Comissão Eleitoral instou os partidos a buscarem os tribunais caso haja qualquer reivindicação.
Em 2007-2008, a contestação dos resultados por Raila Odinga levou a confrontos intercomunitários que fizeram mais de 1.100 mortos e centenas de milhares de deslocados, os piores confrontos pós-eleitorais desde a independência do Quénia em 1963.
Líderes africanos felicitam Ruto
Alguns líderes de países africanos, como a Etiópia, a Somália ou Zimbabué, felicitaram já o novo Presidente eleito do Quénia.
"Os meus parabéns a William Ruto pela sua eleição como Presidente da República do Quénia", disse o primeiro-ministro da vizinha Etiópia, Abiy Ahmed, na sua conta no Twitter, pouco depois da publicação dos resultados eleitorais.
Na mesma rede social, o Presidente da vizinha Somália, Hassan Sheikh Mohamud, deu as suas "mais sinceras felicitações" ao Presidente eleito por "se tornar o quinto Presidente do Quénia".
O Presidente do Zimbabué, , escreveu no Twitter as suas "felicitações" a Ruto e disse não ter "dúvidas de que servirá o seu país, o seu povo e o continente [africano] com distinção".
Todas as eleições presidenciais no Quénia têm sido disputadas nas ruas ou em tribunal desde 2002.
Em 2007-2008, a contestação dos resultados por Raila Odinga levou a confrontos intercomunitários que fizeram mais de 1.100 mortos e centenas de milhares de deslocados, os piores confrontos pós-eleitorais desde a independência do Quénia em 1963.