Niassa poderá passar a produzir trigo para Moçambique
14 de novembro de 2023A guerra entre a Rússia e a Ucrânia e o conflito no Médio Oriente fez com que o trigo se tornasse mais escasso no mercado moçambicano. Mas as duas novas variantes de trigo chamadas "Moz trigo1" e "Moz trigo2" poderão ajudar Moçambique a reduzir a dependência externa do grão.
É o que diz o Instituto de Investigação Agrária de Moçambique (IIAM), que no centro zonal noroeste em Lichinga tem realizado ensaios dos quais conseguiu libertar duas novas variantes de trigo, em outubro.
Mercado
Segundo o delegado do centro regional do Instituto Agrário de Moçambique em Lichinga, Amade Muetil, a província está preparada para produzir e fornecer o trigo ao mercado nacional.
"Quase toda a província tem condições de produção de trigo e conseguimos libertar duas variedades há um mês, que poderão estar disponíveis paraprodução massiva", explicou.
Segundo o delegado do IAM, neste momento há um trabalho inicial, "estamos a multiplicar as sementes. Temos três hectares [...] é provável que tenhamos até próximo ano cerca de 100 hectares", disse.
Novas variantes
Moz trigo1 e Moz trigo2, as novas variantes apresentadas pelo Instituto Agrário, têm sido produzidas nos últimos três anos pela empresa agrária African Century Matama.
Nas últimas três campanhas agrárias, a empresa forneceu ao mercado moçambicano mais de quatrocentas e cinquenta toneladas de trigo. No entanto, ainda há barreiras a ultrapassar, explica o diretor da empresa agrária, Siraj Samamad.
"Fizemos dois anos de ensaio a produzirmos massivamente para a comercialização. Em Matama, já produzimos 450 toneladas, vendemos no mercado local, e a receção foi boa. Mas o preço não estava muito de acordo com o custo de produção. Eu acredito que se possa reduzir um pouco o custo de produção."
Potencialidades agrícolas
O especialista Roberto Preto afirma que, no passado, ficou provado que Moçambique tem potencialidades agrícolas e agroecológicas para a produção do trigo em quantidades suficientes para a autossustentabilidade do país - e, inclusive, para fornecer a outras regiões.
"Para conseguir produzir de modo autosustentável é preciso que haja políticas agrícolas direcionadas às potencialidades de cada região", explica.
"No caso do trigo nas províncias que eu referi - Niassa, Manica e Tete - está provado que podem muito bem produzir para autossustentabilidade, e também para comercializar com o mundo", acrescenta.
Segundo o especialista, o governo moçambicano pode direcionar políticas, tendo-as como prioridade para incentivar o cultivo e capitalizar produtores. "Nessa primeira fase, pode ser de forma familiar e, depois de se avaliar, pode-se produzir em quantidades industriais", concluiu.