Quénia: Manifestantes exigem demissão do Presidente
27 de junho de 2024Os quenianos regressaram hoje às ruas, mesmo depois do Presidente William Ruto ter cedido à pressão das últimas manifestações e ter recusado assinar um projeto de lei polémico que previa o aumento de impostos.
Para os manifestantes, na sua maioria jovens, não basta devolver o diploma ao Parlamento, como fez Ruto; é preciso que o Presidente da República se demita. "Ele perdeu a nossa confiança. Queremos que ele se demita e que os deputados que apoiaram o projeto de lei vão para casa", disse um manifestante.
"E Ruto tem de sair. Os jovens estão fartos dele", acrescentou.
Protestos após mortes
Centenas de pessoas protestaram em várias cidades do Quénia. Na capital, Nairobi, a polícia disparou balas de borracha e gás lacrimogéneo em confrontos isolados com alguns manifestantes.
Na terça-feira (25.06), a polícia matou a tiro pelo menos 23 pessoas, depois de manifestantes invadirem e destruírem parcialmente o Parlamento em protesto contra o aumento dos impostos e o agravamento da pobreza.
"Só viemos aqui para que a nossa voz seja ouvida", disse hoje uma manifestante em Nairobi. "Nós, como geração Z, como quenianos, estamos unidos. A polícia tem de parar de nos matar. Somos manifestantes pacíficos, não estamos armados. Há pessoas a morrer e nós estamos a sofrer às mãos deste Governo."
Os manifestantes dizem ter protestado hoje em memória das pessoas mortas na terça-feira; consideram também que o recuo do Presidente William Ruto veio tarde demais.
Vida cada vez mais cara
Para os manifestantes, já agastados com o aumento dos preços dos alimentos e da eletricidade, nos últimos meses, a aprovação do projeto de lei foi a gota de água.
Eles dizem que não faz sentido aumentar os impostos, quando se podia emagrecer o orçamento para vários setores do Estado, comenta o politólogo Macharia Munene.
"O que incendiou os protestos, desta vez, foi o projeto de lei, que tinha uma série de aumentos estranhos de impostos, para angariar dinheiro para um orçamento exorbitante que não fazia sentido", explica Munene. Particularmente, num país onde muitos funcionários públicos recebem salários chorudos e a corrupção é generalizada.
Ao todo, o Executivo queniano pretendia arrecadar cerca de 2,7 mil milhões de dólares em impostos extra para reduzir o défice orçamental e pagar as dívidas do Estado. "E para piorar as coisas, o Governo não foi capaz de explicar porque é que se contradiz a si próprio", completa Macharia Munene.
O projeto de lei inicial do Governo previa, por exemplo, o aumento dos impostos sobre o pão, óleo vegetal e açúcar, além de um novo imposto anual sobre veículos privados de 2,5%. Mais tarde, e após pressão social, o Executivo retirou a maioria das medidas, mas os manifestantes exigiram a anulação total do diploma.
O Presidente Ruto disse, entretanto, que "inclinou" a cabeça aos manifestantes. Sugere agora uma consulta nacional, porque continua por resolver uma questão: "Como é que o país vai gerir a dívida pública?" A dívida queniana ascende, atualmente, a 70% do Produto Interno Bruto.