Qual estirpe da varíola dos macacos ameaça a África Central?
15 de agosto de 2024A Organização Mundial da Saúde declarou esta quarta-feira (14.08) como emergência global de saúde o atual surto do vírus Monkeypox, anteriormente conhecido como varíola do macaco. O comité de urgência da OMS esteve reunido, em Genebra, na Suíça, para avaliar a epidemia em vários países africanos.
Uma nova estirpe do vírus foi detetada na República Democrática do Congo em setembro de 2023 e entretanto notificada em vários países vizinhos. Esta é a segunda vez em dois anos que a OMS considera que esta doença infeciosa pode tornar-se uma ameaça sanitária internacional.
Mais de 30 mil casos de Mpox e perto de 1.500 mortes foram registados em 16 países africanos desde janeiro de 2022, com um aumento de 160% dos casos em 2024 em comparação com o ano anterior, de acordo com dados da Agência de Saúde Pública da União Africana.
Alarme na RDC e estirpe letal
Em Goma, no leste da República Democrática do Congo, as pessoas estão preocupadas porque sabem muito pouco sobre este vírus altamente contagioso
Um novo tipo de mpox chamado "clado 1b" parece ser mais letal e capaz de se espalhar de pessoa para pessoa com mais facilidade do que as formas anteriores. As taxas de mortalidade chegam a 10% das infeções.
Mpox, anteriormente conhecido como varíola dos macacos, é uma doença infeciosa causada pelo vírus da varíola dos macacos.
O mpox clado 1b foi detetado pela primeira vez na República Democrática do Congo (RDC) na África Central, onde começou a espalhar-se em setembro de 2023.
Desde então, foram reportadas infeções nos Camarões, República Centro-Africana (RCA) e Ruanda. Novos casos no Uganda e no Quénia no início de agosto de 2024 também foram ligados ao clado 1b.
A Organização Mundial da Saúde declarou na quarta-feira a propagação do mpox como uma emergência de saúde pública global, a segunda vez em dois anos que o vírus é categorizado como tal.
Numa publicação na plataforma de redes sociais X no início de agosto, o Diretor-Geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, afirmou que, devido a uma "estirpe mais letal do mpox ter-se espalhado para vários países africanos", a OMS, o CDC África e os governos locais estão a "intensificar a resposta para interromper a transmissão da doença."
Entre o início de 2022 e 28 de julho de 2024, um total de 37.583 casos e 1.451 mortes por mpox foram reportados em 15 países africanos, de acordo com dados do CDC África.
O que são clados de mpox?
O mpox é dividido em dois clados diferentes: clado I e clado II.
O clado I, mais virulento e letal, é endémico na Bacia do Congo, na África Central. O clado II é endémico na África Ocidental.
O clado II foi o tipo que causou o surto global que começou em 2022. As infeções por mpox do clado II são menos graves, com mais de 99,9% das pessoas infetadas a sobreviverem à doença.
As estirpes do clado I causam doenças mais graves e mortes, com taxas de mortalidade de cerca de 3%. No entanto, especialistas de saúde na RDC dizem que a taxa de mortalidade da estirpe clado 1b pode ser tão alta quanto 10% entre as crianças.
A estirpe clado 1b causa erupções cutâneas em todo o corpo, ao contrário de outras estirpes onde as lesões e erupções são geralmente limitadas à boca, face e genitais.
Ambos os clados de mpox são transmitidos por contacto próximo com uma pessoa infetada. Isso inclui falar e respirar perto de uma pessoa infetada — através das chamadas "gotículas", como aprendemos durante a pandemia de COVID.
O mpox também pode ser transmitido sexualmente — de facto, o sexo é uma das principais vias de transmissão — mas os especialistas de saúde não classificam a doença como uma infeção sexualmente transmissível (IST).
Taxas de mortalidade do clado 1b elevadas entre crianças na RDC
A RDC foi particularmente afetada pelos casos de mpox do clado 1b, com mais de 13.000 pessoas infetadas.
A grande maioria das mortes (85%) ocorreu em crianças com menos de 15 anos — que representaram 68% dos casos. A doença é mais comum entre os homens, que representaram 73% de todos os casos reportados.
A maioria dos países ainda não especificou as estirpes responsáveis pelas infeções suspeitas de mpox.
Situação de mpox em África considerada de 'alto risco'
Embora o mpox seja moderadamente transmissível e perigoso, a taxa de mortalidade tem sido muito mais elevada no continente africano em comparação com o resto do mundo.
"Apesar de existirem uma vacina segura e um tratamento antiviral eficaz contra o mpox, estes não estão prontamente disponíveis para a maioria dos [Estados-membros da União Africana]. Por isso, classificámos o nível de risco como elevado", escreveu o CDC África num relatório de 30 de julho de 2024.
Entre janeiro e o final de julho de 2024, foram reportados um total de 14.250 casos (2.745 confirmados; 11.505 suspeitos) e 456 mortes em 10 países africanos.
Isto representa um aumento de 160% no número de casos e 19% nas mortes em 2024, em comparação com o mesmo período de 2023.
De acordo com o relatório, a RDC é o foco dos casos de mpox, representando 96,3% de todos os casos e 97% de todas as mortes reportadas este ano.
O Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC) afirmou, a 29 de julho de 2024, que os riscos para a região europeia são "muito baixos".