Quando a extração de areia é a única forma de sustento da família
A extração de areia para a construção está a permitir que centenas de pessoas fintem o desemprego em Nampula, norte de Moçambique. A atividade representa riscos para o ambiente quando exercida de forma descontrolada.
Fintar o desemprego
Apesar de praticada há bastante tempo, a extração de areia para a construção civil aumentou nos últimos anos em Nampula, norte de Moçambique, devido à crise económica que levou ao encerramento de várias empresas na região. A exploração e venda de areia tornou-se um “trabalho na moda” que ignora sexo e idades. Basta força e vontade de trabalhar.
Vender areia para pagar as despesas
Chama-se Margarida Martins e é uma adolescente de 17 anos que luta pela sobrevivência. É casada e mãe de um filho e o seu esposo é moto-taxista. Margarida contribui para o pagamento das despesas familiares com o dinheiro que ganha a carregar e vender areia. Esta jovem vai de obra em obra à procura de uma oportunidade de emprego para fornecer aquela matéria-prima.
Não é um trabalho de sonho
Quito Francisco é servente de obras de construção em moradias e outras infra-estruturas. Concluiu o ensino secundário há dois anos, mas ainda não teve o primeiro trabalho formal. Ser ajudante de obras não é o seu sonho, mas ainda não teve hipótese de entrar no Instituto de Formação de Professores. ‘‘Por falta de emprego optei por esta atividade. Consigo dinheiro para ajudar a minha família’’, diz.
Areia para produção de carvão vegetal
A areia serve de matéria-prima para construções, mas também é usada na produção de carvão vegetal. Faz-se uma cova onde se coloca lenha e capim seco. Por cima, deixa-se areia e espaço - pequenos furos - para libertar o fumo. Depois de alguns dias, logo que toda a lenha tenha sido consumida pelo fogo, obtém-se o carvão natural.
Devastação de extensas áreas de floresta
A extração de areia - tal como acontece com outros recursos naturais - carece de autorização governamental. Mas em Nampula essa atividade é pouco controlada. Os garimpeiros ignoram quaisquer formas de proteção do meio ambiente e desmatam florestas à procura da matéria-prima. A extração de areia de forma descontrolada junto de zonas residenciais deixa as habitações em risco de desabamento.
Ordenado superior ao de um funcionário público
Extrair areia não é fácil. "É preciso força", segundo Eugénio que trabalha como ‘‘areeiro’’ há cinco anos. ‘‘Fico feliz com este trabalho. Não o abandonarei enquanto não tiver um emprego melhor’’, garante. O jovem conta que por cada carga de areia ganha 900 a 1200 meticais. Se tiver muito material, pode fazer 6.000, o equivalente a 100 dólares, um valor acima do salário de um funcionário público.
Mais solicitações, mais trabalho e mais dinheiro
Este local de extração e venda de areia, na zona do Ye-ye, arredores de Nampula, é um dos mais concorridos pelos camionistas devido à areia fina considerada de boa qualidade. Diariamente, estima-se que mais 50 viaturas ligeiras rumem ao local em busca de matéria-prima, porque segundo os garimpeiros “quanto maior forem as solicitações e trabalho, melhor é o rendimento’’.
Novos bairros em expansão em Nampula
Mesmo com a crise económica que abala Moçambique desde 2015, Nampula continua a crescer. Em algumas zonas arenosas muitos cidadãos preferem poupar dinheiro, abdicando dos “areeiros” e usando recursos do seu próprio pátio. É uma forma de ganhar dinheiro sem sair de casa, embora essa atividade acarrete riscos. Buracos nas imediações das habitações deixam as casas mais vulneráveis às intempéries.