Quarentena por causa do ébola na Serra Leoa foi positiva
22 de setembro de 2014A maioria dos seis milhões de habitantes da Serra Leoa esteve confinada às suas casas a partir da última sexta-feira (19.09) e durante 72 horas.
Por outro lado, cerca de 30.000 voluntários andaram de casa em casa a identificar os doentes e a informar as pessoas sobre as medidas para prevenir a doença.
Uma medida considerada invasiva para a população do país que viu os seus direitos reduzidos.
No entanto Abdulai Bayraytay, porta-voz do Governo da Serra Leoa, discorda. O responsável afirma que nas semanas anteriores ao recolher obrigatório as pessoas foram informadas do que ia acontecer.
E Abdulai Bayraytay garante: “Posso dizer que conseguimos 100% de apoio. Porque até ontem(21.09) tivemos pessoas a ligar a pedir o alargamento do prazo. Nós não vamos alargar o prazo porque queremos olhar para as provas empíricas do que conseguimos atingir nos últimos três dias."
E o porta-voz promete consultar os especialistas caso a situação se repita: "Assim se tivermos de replicar a experiência no futuro, também vamos consultar os peritos de saúde.”
Sensibilização bem sucedida
O ministro da Saúde, Abubakarr Fofanah, declarou à imprensa que os agentes envolvidos na operação conseguiram visitar 80 por cento das casas, considerando que a iniciativa foi um sucesso.
Segundo o ministro, um dos aspetos conseguidos da operação foi a interrupção dos "enterros noturnos", prática seguida pelas famílias para encobrir a morte dos infetados com o vírus do ébola.
“Só naqueles três dias, conseguimos fazer recuperar 77 corpos enterrados na parte ocidental do país. Conseguimos descobrir cerca de 124 novos casos. E estas foram pessoas que saíram voluntariamente depois do anúncio do presidente no dia 18”, revela Abdulai Bayraytay.
Segundo um novo balanço divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) 2.793 pessoas morreram devido à doença desde o início do ano nos três países da África Ocidental mais afetados: Serra Leoa, Libéria e Guiné-Conacri. 5.762 casos já foram recenseados.
Os habitantes da Serra Leoa retomaram nesta segunda-feira (22.09) a sua vida normal depois da operação inédita do recolher obrigatório para lutar contra a epidemia do ébola, que já matou 562 pessoas no país.
Dificuldades
Para além do número de mortos e de novos casos, a experiência do recolher obrigatório revelou outras áreas em que o setor da saúde precisa de mais incentivos.
A dificuldades são muitas, como revela Abdulai Bayraytay: “Precisávamos de mais ambulâncias. O Governo só comprou 16 ambulancias com os seus parcos recursos, que distribuímos por todo país", destacou o porta-voz do Governo da Serra Leoa, para em seguida concluir que "ficamos sobrecarregados, precisávamos de mais logística para além de recursos humanos.”
No entanto, a ação do Governo foi bastante criticada. Observadores independentes expressaram preocupações em relação à qualidade dos conselhos fornecidos, por considerarem que nem todos os voluntários teriam a devida formação.
Também a associação Human Rights Watch criticou a operação, descerevendo-a como sendo mais um golpe publicitário e não tanto, uma "intervenção de saúde", segundo Joe Amon, o diretor para as questões de saúde e direitos humanos.
OMS reitera a sua oposição às restrições de viagens
A Organização Mundial de Saúde (OMS) alertou esta segunda-feira (22.09) que os cancelamentos de voos e outras restrições às viagens prejudicam os países
afetados pelo vírus do ébola e afetam a entrada de profissionaise materiais de saúde.
O Comité de Emergência da Organização Mundial de Saúde, que se reuniu em Genebra para avaliar a epidemia do ébola na África Ocidental, salientou que as restrições de movimentos podem contribuir para a doença alastrar.
Os peritos da OMS reiteraram que o mundo está a braços com "uma emergência de saúde pública de alcance internacional" e exortaram os países afetados e a comunidade internacional em geral a aumentar os esforços para deter o alastramento do vírus.
As restrições às viagens acabam por ter "consequências económicas perniciosas, prejudicam a assistência e os esforços de resposta" à doença e aumentam o risco de "maior expansão internacional" do vírus, concluíram os membrosdo Comité.
"O Comité recomenda encarecidamente que não se apliquem proibições generalizadas às viagens ou ao comércio, exceto as restrições aplicadas às pessoas infetadas pelo ébola", declararam.