Quatro anos de João Lourenço: "Democracia camuflada"
26 de setembro de 2021Várias vozes ouvidas pela DW África em Luanda apontam mais recuos que a avanços durante os quartos anos do Presidente João Lourenço no poder. As promessas de emprego para juventude ainda estão longe de serem concretizadas. Ao contrário disso, as empresas estão fechar e a colocar mais jovens no desemprego.
Os angolanos afirmam também que as reformas implementadas por João Lourenço pioraram a situação social das famílias, que agora "oram" para a redução dos preços da cesta básica.
Estudar em Angola também está mais caro com a subida constante dos preços das propinas nas instituições de ensino público e privado. Dados do Movimento dos Estudantes Angolanos (MEA) apontam que a reforma educativa de João Lourenço deixou mais de quatro milhões de angolanos fora do sistema de ensino.
O presidente do MEA, Francisco Teixeira, diz que os materiais didáticos no ensino geral não chegam aos alunos, apesar de serem gratuitos.
"Os quatro anos do Presidente João Lourenço, no setor da Educação, são uma lástima. Deu-nos ideias de que tem uma sensibilidade para educação, mas, infelizmente, está ladeado de indivíduos que querem a todo custo comercializar a educação, tornar o ensino num luxo ao invés de um direito. Nos quatro anos só houve regressões. O número de jovens fora do ensino é pior. O nosso ensino não tem qualidade e o próprio Presidente reconhece isso", diz o líder juvenil.
Novas leis não trouxeram mudanças para os cidadãos
O secretário-geral da Associação Nova Aliança dos Taxistas de Angola (ANATA), Alexandre Barros, afirma que Angola teve como ganhos as novas leis aprovadas na Assembleia Nacional – como, por exemplo, a Lei sobre o Repatriamento Coercivo e Perda Alargada de Bens. Mas o taxista angolano questiona: "Será que esta recuperação de ativos já surtiu efeitos na vida do cidadão?"
"Penso que há muito ainda a ser feito. Falo das leis em que estou inserido, estamos há 11 anos na luta pela profissionalização, e o Presidente João Lourenço consumiu quatro anos dessa nossa luta. Se não se efetivou [a profissionalização dos taxistas] agora, é óbvio que a classe que representamos não vê mudanças", reclama Alexandre Barros.
"Democracia camuflada"
O advogado Zola Bambi fala em "democracia camuflada" no mandato de João Lourenço. Segundo Bambi, "durante o consulado de João Lourenço nenhum partido foi legalizado" e "isto é alarmante".
"Os direitos humanos são violados de uma forma maquilhada, pior que no consulado passado, porque se assumia o comportamento das forças de segurança como tal. Vive-se uma pseudodemocracia. As promessas apontavam que se faria o melhor, mas as prisões arbitrárias continuam", afirma o advogado.
Por seu turno, o líder da Juventude Unida e Revolucionária de Angola (JURA), braço juvenil da União para a Independência Total de Angola (UNITA), Agostinho Kamuango, afirma que João Lourenço só será reeleito no Congresso do MPLA em dezembro deste ano. Nas eleições gerais de 2022 vai ser eleito para a oposição, afirma Kamuango à DW.
"Hoje a sociedade despertou e percebeu que enquanto o MPLA continuar no poder o sofrimento do povo vai continuar. Na minha maneira de ver, João Lourenço deve começar a negociar o seu lugar na oposição. João Lourenço e o MPLA. Penso que seriam inteligentes se começassem a pensar neste sentido ao invés de alimentarem a esperança de uma provável vitória. Não me vejo mais cinco com o MPLA no poder", avalia o líder juvenil.
MPLA celebra governação de JLo
Entretanto, para o segundo secretário provincial do MPLA no Zaire, Hortêncio Nunes Gabriel, a governação do Presidente da República melhorou a liberdade de imprensa em Angola e conquistou apoio de investidores internacionais.
"Como angolanos, temos vistos as mudanças que o país conhece nestes quatro anos de governação do Presidente João Lourenço", defende.
"Primeiro é o combate à corrupção e o nepotismo", argumenta Nunes Gabriel, que acredita que "este combate tem surtido efeitos". "Com isso, a comunidade internacional tem apoiado essa prática positiva do camarada presidente João Lourenço. Também há mais liberdade de imprensa como temos constatado", conclui o político do partido no poder liderado pelo chefe de Estado angolano.