Queda do preço do carvão pode ameaçar produção em Moçambique
10 de outubro de 2013
Originam a queda do preço do carvão vários factores, entre eles, a redução da taxa de crescimento da Índia e China. Face a este cenário, alguns entendidos consideram que esta queda pode afetar as exportações do carvão de Moatize, em Moçambique. Mas um outro constrangimento, e sensível para o país, é o transporte e a distância. O local da produção fica longe dos portos de escoamento, o que pode não ser rentável para as empresas, quando o preço do produto baixa. No entanto, segundo o economista moçambicano Ragendra de Sousa as empresas mineiras estão preparadas para eventualidades.
"Neste momento, o preço internacional ainda permite que as indústrias em Tete possam produzir, mas vão produzir e exportar com uma taxa de lucro muito baixa", explica o analista. "Porém", ressalva, "são indústrias de muito capital e de retorno a longo prazo. Essas indústrias têm capacidade financeira para aguentar tempos maus".
Repensar estratégias, reduzir impacto ambiental
Apesar de tudo, o país continua atrativo pelas suas reservas muito grandes que podem ser exploradas entre 50 a 70 anos. Mas Ragendra de Sousa considera que Moçambique precisa estar atento ao preço internacional e olhar de novo para as suas estratégias nesta área, lembrando que "o que está a acontecer agora vai obrigar as pessoas a repensarem a linha de Nacala, que são 1000 km desde o ponto de produção".
Por outro lado, há também a forte pressão do mundo desenvolvido, devido aos efeitos nocivos do carvão no meio ambiente. Mas William Telfer, especialista moçambicano em hidrocarbonetos, prefere ver as soluções. O analista afirma que "todos tentam parar de utilizar os combustíveis fósseis" e lembra que "a China tem problemas relacionados com a produção de carvão". "Moçambique não tem só carvão termal. Tem o coque, usado na indústria metalúrgica, e há várias formas de utilizar carvão sem prejudicar o ambiente", conclui.
Alertas ao 4º maior produtor de gás do mundo
Quanto ao gás, as posições dos dois especialistas seguem a mesma linha. Ragendra de Sousa lembra que o gás tem a vantagem de substituir a energia nuclear porque é limpo. Recorde-se que, nos países desenvolvidos, a pressão para banir a energia nuclear é grande, o que faz do gás um favorito substituto. E Moçambique poderá ser o 4º maior produtor do mundo, para além da sua posição geográfica favorável, o que deixa o país numa posição privilegiada. Mas o especialista alerta o Governo moçambicano apara um aspeto: “Se o preço se deteriora e o nível de negócios continua no nivel em que está, corremos o risco de desinvestimento. Agora, este é um risco real”.
E não é só nesse aspeto que o Governo é chamado a estar atento e a organizar-se melhor. A concorrência está ao lado de Moçambique e muito bem preparada. "Se não tivermos operadores credíveis como a Tanzânia seremos um elefante branco como a Austrália", conclui William Telfer.