1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW
PolíticaRepública Democrática do Congo

Quem está por detrás da morte do embaixador italiano na RDC?

Wendy Bashi | Isaac Mugabi | af | Lusa
24 de fevereiro de 2021

Autoridades congolesas acusam os rebeldes das Forças Democráticas pela Libertação de Ruanda (FDLR) de terem assassinado o embaixador italiano Luca Attanasio. FDLR negam acusações e culpam os exércitos da RDC e do Ruanda.

https://p.dw.com/p/3pmMw
Soldados da MONUSCO patrulham a estrada onde o embaixador italiano foi morto Foto: Alexis Huguet/Getty Images/AFP

O embaixador Luca Attanasio, o guarda italiano Vittorio Iacovacci, que acompanhava o diplomata, e o motorista congolês Moustapha Milambo perderam a vida na segunda-feira (22.02) quando a comitiva em que seguiam do Programa Mundial de Alimentação (PAM) foi surpreendida por um tiroteio perto de Goma, no leste do Congo. A comitiva seguia em direção a Rutshuru, em missão de serviço.

O governador da província do Kivu Norte, Carly Nzanzu, disse à DW que os atacantes eram combatentes das Forças Democráticas para a Libertação do Congo (FDLR). "De acordo com as nossas informações, os seis atacantes falaram Kinyarwanda e os grupos armados na região onde o ataque aconteceu são na sua maioria FDLR. Mas de acordo com informações preliminares, acreditamos que são FDLR localizadas nesta região de Kibumba", esclareceu.

Segundo o governador, a intenção dos atacantes era raptar a delegação do embaixador e tentar exigir um resgate. "De acordo com os sobreviventes, os rebeldes queriam dinheiro do embaixador", adiantou Carly Nzanzu.

Rebeldes negam autoria do ataque

Entretanto, os rebeldes das FDLR já negaram a autoria do ataque contra a comitiva do PMA que resultou na morte do embaixador italiano e acusaram os exércitos da RDC e do Ruanda.

"Rejeitamos categoricamente isto. A FDLR não tem nada a ver com este crime. Não temos nada a ver com este tipo de homicídio. Dizer que os atacantes falaram Kinyarwanda não culpa a FDLR porque estamos numa área onde o Kinyarwanda é muito falado", disse o porta-voz das FDLR, Cure Ngoma.

Italienischen Botschafters im Kongo, Luca Attanasio
Luca Attanasio era embaixador na RDC desde o início de 2018Foto: AFP/Italy's Foreign Ministry

Os rebeldes das FDLR referem que o embaixador foi atacado perto da fronteira ruandesa, "não longe de uma posição das Forças Armadas da República Democrática do Congo e dos soldados ruandeses."

Questionado sobres os motivos que estariam por detrás da acusação feita pelas autoridades congolesas contra as FDLR, o analista Fredrick Mutebi lembra que há muitos grupos a vaguear por aquela região. "Podem ser as FDLR ou qualquer outro grupo. Além disso, existem outros congoleses de língua kinyarwanda", recorda.

Mutebi diz que a região onde o incidente ocorreu tem sido alvo de operações conjuntas entre o exército congolês e ruandês, que procuram controlar as incursões de grupos armados na região. "Não é suficiente dizer que as FDLR são as únicas responsáveis. Enquanto não for levada a cabo uma investigação exaustiva, não podemos facilmente saber quem está por detrás deste ataque", conclui.

O Presidente da República Democrática do Congo, Félix Tshisekedi, condenou o ataque e prometeu um inquérito para esclarecer as circunstâncias do incidente.

Itália pede à ONU investigação urgente

A Itália pediu às Nações Unidas a abertura de um inquérito e "respostas claras" sobre a morte do embaixador. A posição de Roma foi demonstrada hoje pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Luigi de Maio.

"Nós pedimos formalmente ao PAM e à ONU a abertura de um inquérito para que se faça luz sobre o que se passou, as razões que justificam o sistema de segurança que tinha sido implementado e quem é o responsável por estas decisões", disse o chefe da diplomacia do governo de Itália no Parlamento de Roma. 

"Dissemos também que esperamos, o mais rapidamente possível, respostas claras e exaustivas", acrescentou o ministro.  

Os corpos do embaixador de 43 anos e do guarda-costas italiano que o acompanhava já foram trasladados na terça-feira (23.02) para Roma. 

Acerto de contas com o passado colonial da Bélgica no Congo