Quem é Félix Tshisekedi, o Presidente eleito na RDC?
11 de janeiro de 2019Com 38,6% dos votos, Félix Tshisekedi foi declarado vencedor das eleições presidenciais na República Democrática do Congo (RDC). Divulgado dez dias depois da votação, o resultado apanhou muitos de surpresa.
Aos 55 anos, e na liderança de um dos mais antigos partidos da oposição congolesa, a União para a Democracia e o Progresso Social (UDPS), Tshisekedi promete trazer de volta a paz ao país. "Eu e o meu irmão Vital Kamerhe teremos o Quénia como inspiração. Uma das nossas principais prioridades será devolver a paz e a segurança ao Congo, principalmente ao leste do país", disse no seu primeiro discurso após o anúncio dos resultados, na noite de quarta-feira (09.01).
No entanto, há quem duvide das suas capacidades para liderar um país como a RDC. Entre as críticas apontadas a Tshisekedi estão a falta de experiência no campo político e de qualificações. Há também quem entenda que o vencedor das presidenciais de dezembro só foi eleito por causa do legado deixado pelo seu pai.
Sair da sombra do pai
Félix Tshisekedi é o terceiro dos cinco filhos de Étienne Tshisekedi, uma figura popular da oposição congolesa e fundador do partido UDPS. Foi por causa da oposição do seu pai ao regime do Presidente Mobutu Sese Seko que Félix Tshisekedi teve de abandonar o país, em 1985, quando tinha 22 anos, rumo à Bélgica.
É em Bruxelas que ganha a alcunha de "Fatshi" que se mantém até hoje. Na capital belga, o jovem fazia alguns biscates ao mesmo tempo que estudava marketing e comunicação, curso que os críticos dizem não ter terminado. Facto é que, mesmo durante o exílio, Félix Tshisekedi reforçou a sua posição contra o regime congolês.
Depois da morte do seu pai, em 2017, Tshisekedi chegou à liderança da UDPS. E apesar de ter já conseguido algo que o seu pai não alcançou - a presidência do país - Felix Tshisekedi terá de mostrar o que vale, diz Wendy Bashi, correspondente da DW em Kinshasa.
"Um dos grandes desafios de Felix Tshisekedi é sair da sombra do seu pai. O outro é modernizar o UDPS", afirma Wendy Bashi. "A maioria dos membros da UDPS tem uma idade avançada. Lutou ao lado de Etienne Tschisekedi; mas há um conjunto de jovens membros do partido que estava à espera que chegasse a sua hora para poder brilhar e apresentar algo novo", lembra.
Novo capítulo na RDC
Para já, Félix Tshisekedi mostrou-se aberto a parcerias, algo que contrasta com a liderança do seu pai. Depois de ter rejeitado uma candidatura conjunta com os demais partidos da oposição, Tshisekedi uniu-se a Vital Kamerhe, que já havia feito frente a Joseph Kabila nas eleições de 2011.
À DW, Vital Kamerhe, que deverá ser o próximo primeiro-ministro do Congo, afirma que a vitória do seu parceiro Tshisekedi abre um novo capítulo na história do país. "O povo congolês manifestou-se e devemos respeitar a sua vontade. Deve ser dito que a República Democrática do Congo acaba de entrar no círculo [de países como] o Gana e o Senegal, nos quais houve efetivamente uma mudança de regime."
Na mesma entrevista, Vital Kamerhe rejeitou que tenha havido qualquer tipo de conversações com o Presidente Joseph Kabila. Uma acusação feita pelo também candidato da oposição, Martin Fayulu, que afirmou já não aceitar os resultados. Félix Tshisekedi deverá ser oficialmente empossado a 18 de janeiro.
UE: "Eleitores exprimiram claramente a sua escolha"
Numa declaração divulgada esta sexta-feira, a União Europeia (UE) considera que "as declarações preliminares das missões de observação internacionais e de cidadãos indicaram que o escrutínio, apesar das dificuldades encontradas, permitiram ao eleitorado exprimir claramente a sua escolha no dia 30 de dezembro".
A UE associa-se "aos apelos da missão internacional da União Africana (UA) e do presidente da comissão da UA para que os resultados oficiais sejam conformes ao voto do povo congolês" e considera que qualquer contestação dos resultados deverá fazer-se pacificamente, recorrendo aos procedimentos previstos e ao diálogo entre as partes.
Considerando que os resultados preliminares são contestados por uma parte da oposição e dos observadores nacionais, particularmente a Conferência Episcopal Nacional do Congo, Bruxelas salientou ser "muito importante para a credibilidade do processo" que a Comissão Eleitoral Nacional Independente (CENI) prossiga o seu trabalho.