Quenianos ansiosos pela visita do Papa Francisco
25 de novembro de 2015O Papa Francisco já chegou à Catedral da Sagrada Família em Nairobi. Foi colocada aí uma imagem de cartão em tamanho real do pontífice, que sorri aos fiéis.
"Estou muito entusiasmada e contente. Sinto-me abençoada", diz Kevin Bundi, de 31 anos, ao subir a escadaria da catedral. Segundo uma sondagem recente, 93% dos quenianos, de várias confissões, dizem estar contentes com a chegada do Papa Francisco. Esta é a maior visita de uma personalidade internacional desde que o Presidente norte-americano Barack Obama esteve no país, em julho. Prevê-se que mais de 1,4 milhões de pessoas participem na missa campal, marcada para quinta-feira.
As medidas de segurança foram reforçadas, assegura o inspetor-geral da polícia queniana, Joseph Boinett: "Estamos preparados para receber o Santo Padre e a sua comitiva. Foram tomadas medidas de segurança de forma a cobrir todas as ruas por onde ele irá passar e para que os visitantes que vêm à cidade para ver o Papa estejam seguros."
Paz e reconciliação na agenda
Maurene Okumu distribui convites para a missa papal. "Esperamos que ele reze pela paz no Quénia. Não há paz no nosso país", diz.
Esse é um desejo partilhado por muitos, um país que luta há vários anos contra ataques extremistas. Muitos quenianos estão ainda chocados com o ataque da milícia islâmica somali al-Shabab à Universidade queniana de Garissa, em abril, que causou 142 mortos, a maioria cristãos. As tensões étnicas cimentam também o receio, entre muitos quenianos, de uma repetição dos confrontos que se seguiram às eleições gerais de 2007, em que morreram mais de mil pessoas.
O alto representante da Igreja Católica já anunciou que a paz e a reconciliação estarão no topo da agenda da sua viagem de quatro dias a África. "Vivemos numa altura em que os crentes religiosos e as pessoas de boa vontade, de todo o lado, são chamadas a promover o respeito e entendimento mútuos e a apoiarem-se uns aos outros como membros de uma única família humana", afirmou Francisco numa mensagem de vídeo divulgada no domingo. Além do Quénia, o Papa visitará ainda o Uganda e a República Centro-Africana.
O apelo de Francisco foi bem recebido no Quénia. "A sua presença e o seu reconhecimento de que há pessoas de confissões diferentes neste país é uma indicação clara de que o Papa quer promover as relações inter-religiosas", disse Hassan Ole Nado, secretário-geral adjunto do Conselho Supremo dos Muçulmanos do Quénia. Os muçulmanos constituem cerca de 11% da população do Quénia. O papa irá encontrar-se com líderes muçulmanos e representantes de outras religiões, na quinta-feira.
Futuro da Igreja Católica
Os fiéis na Catedral da Sagrada Família pedem outra coisa ao Papa: que ele fale claramente sobre corrupção. "Ele precisa de dizer às pessoas para banir a corrupção de uma vez por todas", diz Anthony Gachuru.
No domingo passado, a ministra queniana do Planeamento, Anne Waiguru, demitiu-se na sequência do desaparecimento de fundos públicos, incluindo 100 milhões de euros do Serviço Nacional da Juventude. O Presidente Uhuru Kenyatta prometeu medidas duras para erradicar a corrupção. No entanto, a confiança da população no Governo não é muita. "Não precisamos de palavras bonitas, é preciso agir", escreveu o jornal queniano Daily Nation.
Durante a viagem a África, o Papa também deverá abordar a pobreza crescente no continente. Na sexta-feira, Francisco visitará o bairro de lata de Kangemi, nos arredores de Nairobi, onde vivem mais de 200 mil pessoas. 43,4% dos quenianos vive abaixo da linha da pobreza.
Os católicos esperam também que o Papa aborde, nos seus discursos, o futuro da Igreja. Francisco já sugeriu várias vezes que será necessária uma reforma cautelosa da recusa firme católica da homossexualidade e do divórcio, algo a que resistiram fortemente grupos conservadores de todo o mundo, incluindo muitos bispos africanos. "Ele deve tomar uma posição clara sobre o rumo da Igreja", diz Myriam Mwangi, de 36 anos, uma coordenadora de planeamento familiar da arquidiocese de Nairobi.
Mwangi diz que respeitará a posição do Papa, mas tem a sua opinião pessoal: "Quero que a Igreja continue nos moldes tradicionais."