Quénia: Ruto tenta impulsionar a indústria do vestuário
25 de outubro de 2023O Presidente queniano, William Ruto, anunciou planos para liderar uma iniciativa que garantirá que todos os uniformes militares e policiais, bem como outros artigos de vestuário, sejam exclusivamente produzidos no Quénia.
"Já dei instruções para o futuro: Todos os uniformes, calçado e outras peças e artigos de vestuário necessários a todos os nossos serviços de segurança devem ser fabricados localmente pelas nossas empresas e pelos nossos jovens quenianos", disse Ruto, no recente desfile de passagem de 2.664 guardas florestais.
As empresas têxteis do Quénia, os produtores de algodão, os trabalhadores do setor do vestuário, as pequenas empresas e o público reagiram com entusiasmo e otimismo.
Muitos esperam que a iniciativa revitalize a indústria têxtil do país, que se encontra em dificuldades, e tenha efeitos positivos na economia em geral.
O "designer" de moda, Amos Mwangi, baseado em Nairobi, vê a iniciativa como uma oportunidade, uma vez que a moda no Quénia está a mudar.
As pessoas estão a começar a abraçar aquilo a que chamamos peça de assinatura, em que alguém quer vestir-se de uma determinada forma, é feito à medida, por isso é uma coisa boa.", disse.
Impulso à produção local
O Quénia depende atualmente das importações de têxteis, sendo mais de 90% provenientes de países como a China, a Índia, o Paquistão, a Tanzânia e a Turquia. Mas a especialista em investimentos e finanças, Caroline Karugu, acredita que não há necessidade de importar tecidos quando o Quénia os pode produzir.
"O que estou a usar é feito aqui no Quénia. O meu casaco é feito em Kawangware. Estes tecidos não precisam de ser importados", comentou.
Tejal Dodhia, diretora executiva da Thika Cloth Mills, investiu em maquinaria avançada para satisfazer a procura crescente. Também consegue prever um futuro sem uma taxa tão elevada de importações.
"Toda a gente sabe como isto é importante. Espero que o país valorize esta iniciativa. Vamos todos fazer força para comprar o Quénia, construir o Quénia", disse.
Potenciais inconvenientes
No entanto, o novo rumo industrial do presidente levanta questões sobre se o Quénia pode satisfazer a maior parte da procura local de produtos têxteis. Para além das botas do exército e dos uniformes da polícia, a maior parte dos produtos básicos, como em qualquer outra parte do mundo, provêm de fabricantes de têxteis, principalmente do Sudeste Asiático.
"Por muito que gostássemos de comprar produtos fabricados no Quénia, nem todos estão disponíveis aqui. Por isso, alguns dos produtos terão talvez de vir da China ou da Índia", disse Anne Mutiso Mwikali, consumidora.
Tejal Dodhia espera que a sua empresa, que já está a funcionar em pleno, possa tornar-se um catalisador na promoção das marcas quenianas em sectores têxteis dominados pelas importações. Está confiante de que o seu investimento será compensado.
"Se não colocarmos as novas máquinas agora, não seremos capazes de satisfazer as exigências do mercado", afirmou.
Roupa usada
O florescente sector do vestuário usado no Quénia representa outro desafio a estas mudanças. Todos os anos, o país importa cerca de 200 mil toneladas de artigos em segunda mão.
No entanto, Phyllis Wakaiga, da Associação de Fabricantes do Quénia, vê oportunidades de crescimento e desenvolvimento, sugerindo que os comerciantes poderiam mudar o seu foco para o vestuário produzido localmente.
"Temos uma oportunidade de vender estes produtos no nosso mercado local. Então, eles substituiriam o produto (roupas usadas)e venderiam os produtos fabricados localmente", disse.