Rússia propõe novo cessar-fogo na Ucrânia
8 de março de 2022A Rússia propôs um novo cessar-fogo à Ucrânia para esta terça-feira (08.03), anunciou o embaixador russo nas Nações Unidas, Vassily Nebenzia. Durante a reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU dedicada à crise na Ucrânia, esta madrugada, o diplomata leu uma declaração de Moscovo para estabelecer um cessar-fogo a partir das 10h00 locais, o que permitiria a abertura de corredores humanitários para evacuar cidadãos das cidades ucranianas de Kyiv, Chernihiv, Sumy, Kharkiv e Mariupol.
A Ucrânia concordou apenas com uma rota. Esta manhã, a vice-primeira-ministra e ministra para a Reintegração dos Territórios Ocupados da Ucrânia, Iryna Vereshchuk, anunciou a abertura de um corredor humanitário para retirar a população civil de Sumy, no nordeste do país. 21 pessoas morerram, incluindo duas crianças, e várias casas foram destruídas por bombardeamentos russos feitos de madrugada no centro de Sumy, segundo as autoridades ucranianas.
A ministra ucraniana precisou que o corredor estará aberto até às 21h00, horário local, e a rota será feita entre Sumy, Golubivka, Lojvitsa, Lubny e Poltava.
"Nenhuma outra rota foi acordada", afirmou Vereshchuk, acrescentando que a abertura do corredor para Sumy foi notificado pelo Ministério da Defesa russo ao Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV).
Proposta russa vista com cepticismo
Já na segunda-feira, a Rússia tinha proposto a abertura de corredores humanitários que conduziam ao território russo e bielorrusso, uma proposta que Kiev rejeitou. A Ucrânia prefere que os evacuados sejam enviados para a região ocidental do país, onde não há bombardeamentos.
O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, tem-se mostrado céptico em relação às iniciativas russas para um cessar-fogo, uma vez que tentativas anteriores de evacuação de civis em segurança falharam. O Governo afirmou que só apoiará o plano russo depois do início das evacuações em segurança.
Depois de uma terceira ronda de negociações entre representantes dos dois países, esta segunda-feira, não houve muitos progressos para garantir a retirada de civis da Ucrânia.
O Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) estima que um número superior aos dois milhões de refugiados de guerra da Ucrânia pode ser ultrapassado "hoje ou amanhã".
ONU precisa de "corredores seguros"
O subsecretário-geral das Nações Unidas para Assuntos Humanitários e Coordenação de Operações de Emergência, Martin Griffiths, lançou o alerta no Conselho de Segurança: a ONU "precisa de corredores seguros para fornecer ajuda humanitária em zonas de combate" na Ucrânia.
"Civis em zonas como Mariupol, Kharkiv, Melitopol e outros locais precisam desesperadamente de ajuda, especialmente suplementos médicos que salvam vidas", adiantou Griffiths, indicando que são possíveis "muitas modalidades" e que isso "deve ser feito em conformidade com as obrigações das partes sob as leis da guerra".
"As partes devem garantir em todos os momentos poupar civis, casas civis e infraestrutura nas suas operações militares", anotou. Para Martin Griffiths, isso incluiu "permitir a passagem segura de civis que deixam áreas de hostilidades ativas de forma voluntária, naquilo que são as suas escolhas", sabendo que os corredores humanitários planeados por Moscovo atraem os refugiados para a Rússia ou Bielorrússia.
Até ao momento, a ONU não se tem envolvido nos "corredores humanitários" negociados entre a Rússia e a Ucrânia, para que os civis possam fugir do conflito em segurança, de acordo com o seu porta-voz, Stéphane Dujarric.
China critica sanções
Já o representante da China na ONU apelou no Conselho de Segurança ao reforço dos esforços diplomáticos para se evitar "uma crise humanitária em larga escala" na Ucrânia e criticou "as contínuas sanções unilaterais" contra a Rússia.
"A Rússia e a Ucrânia chegaram a um consenso sobre o estabelecimento de um corredor humanitário através da negociação. Espera-se que os dois lados superem as dificuldades encontradas no processo de implementação e garantam a segurança e tranquilidade do corredor humanitário", disse Zhang Jun.
O diplomata salientou que estes processos "complexos" exigiam "calma e racionalidade" em vez de se "acrescentar combustível ao fogo e à escalada dos conflitos".
"Para resolver a crise da Ucrânia, devemos aderir aos objetivos e princípios da Carta das Nações Unidas, respeitar e proteger a soberania e a integridade territorial de todos os países", sublinhou.
Por outro lado, criticou "o reforço contínuo das sanções unilaterais", sustentando que "não é uma forma fundamental e eficaz de resolver o problema".
"Terá também graves consequências humanitárias e os seus efeitos de alastramento causarão perdas a outros países. Enviar armas ofensivas e mesmo enviar mercenários para a Ucrânia poderia agravar a situação e trazer mais e maiores riscos", argumentou.
EUA mobilizam militares e ajuda
Por sua vez, os Estados Unidos estão a mobilizar mais 500 militares para a Europa, para fortalecer a segurança da NATO, divulgou o Pentágono, que estima agora que a Rússia já enviou para a Ucrânia quase todas as tropas concentradas na fronteira.
Desde o início do ano que Washington já tinha implementado 12.000 militares na Europa, que se somaram aos que estão habitualmente destacado no velho continente.
Ao mesmo tempo, o congresso norte-americanon estava esta segunda-feira perto de fechar um acordo sobre um projeto de lei para fornecer milhares de milhões de dólares em ajuda de emergência à Ucrânia. As propostas de apoio à Ucrânia dos Estados Unidos e dos seus aliados europeus já ultrapassa os 11 mil milhões de euros, segundo o líder da maioria democrata no Senado, Chuck Schumer.
Apelo ao boicote
Em Kiev, os soldados e voluntários construíram centenas de postos de controlo com sacos de areia, pneus empilhados e cabos para proteger a capital ucraniana, onde ainda estão mais de quatro milhões de habitantes.
Volodymyr Zelensky diz que não tem medo de ninguém e gravou um vídeo a revelar que se encontra no palácio presidencial, na capital. O Presidente da Ucrânia diz que há uma forma de o Ocidente parar Vladimir Putin: "Boicote às exportações russas. Em particular, a rejeição do petróleo e dos produtos petrolíferos provenientes da Rússia. A isto pode chamar-se um embargo. Ou pode simplesmente chamar-lhe moralidade, quando se recusa a dar dinheiro a um terrorista".
Mas este é um pedido que a Alemanha diz que não está em condições de cumprir. Segundo o chanceler alemão Olaf Scholz, a energia foi deliberadamente deixada de fora das anteriores sanções já impostas, justificando a decisão com o facto de a Europa não poder garantir o seu fornecimento de energia sem importar parte da Rússia. A União Europeia depende da Rússia para 40% das suas necessidades de gás e apresenta uma taxa de importação de petróleo russo na ordem dos 27%.
Esta terça-feira, a Comissão Europeia vai apresentar uma proposta para a UE se "libertar" da dependência do petróleo e gás da Rússia, por ocasião da reunião semanal do colégio, em Estrasburgo, França.