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PolíticaÁfrica do Sul

Ramaphosa diz que África do Sul tem democracia "robusta"

Thuso Khumalo | Sertan Sanderson | Lusa
3 de junho de 2024

O Presidente Cyril Ramaphosa considera que as eleições demonstraram que a África do Sul tem uma democracia "forte". O ANC, partido no poder, perdeu a maioria absoluta e terá agora de procurar parceiros de coligação.

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Cyril Ramaphosa falou ao país após a divulgação dos resultados das eleições na África do Sul
Cyril Ramaphosa falou ao país após a divulgação dos resultados das eleições na África do SulFoto: UPI Photo/IMAGO

"Os sul-africanos demonstraram através do voto que a democracia é forte e robusta, que após 30 anos continua durável. Demonstraram que pretendem fazer deste país um lugar melhor", salientou o líder sul-africano, após a Comissão Eleitoral Independente (IEC) ter anunciado os resultados das eleições nacionais e provinciais de 2024, em Joanesburgo.

Cyril Ramaphosa, que é também presidente do  Congresso Nacional Africano (ANC), que perdeu a maioria absoluta e 71 mandatos nesta votação para o Parlamento, adiantou que "o povo falou, quer se goste ou não" e todos devem respeitar a sua vontade.

 O Presidente da República sul-africano referiu também que "o resultado destas eleições significa que os eleitores que votaram esperam que todas as organizações políticas encontrem terreno comum para resolver as suas diferenças e trabalhar em prol do bem de todos".

 "O que o nosso povo espera é que todos os partidos trabalhem no âmbito da constituição, de forma pacífica, em respeito pela ordem", sublinhou Ramaphosa.

 "As eleições foram justas, credíveis e pacíficas", afirmou o presidente sul-africano, concluindo que "é altura de trabalhar, que Deus abençoe o país e proteja o seu povo".  

Os resultados finais foram divulgados pela comissão eleitoral no domingo (02.06)
Os resultados finais foram divulgados pela comissão eleitoral no domingo (02.06)Foto: UPI Photo/IMAGO

Perda da maioria absoluta

O partido no poder na África do Sul perdeu a maioria absoluta no país pela primeira vez desde o início da democracia sul-africana, há 30 anos.

Os resultados finais divulgados pela Comissão Eleitoral no domingo revelam que o partido obteve 40,19% dos votos dos votos - uma enorme queda em relação aos 57,5% que obteve nas últimas eleições, em 2019.

O partido outrora liderado por Nelson Mandela não conseguiu garantir maiorias absolutas em três das nove províncias do país em votações eleitorais regionais.

A província sul-africana do Cabo Ocidental foi mantida pela maioria da Aliança Democrática (DA), enquanto o reduto do ANC em KwaZulu-Natal foi conquistado pelo recém-formado partido uMkhonto we Sizwe (MK), liderado pelo antigo Presidente e ex-líder do ANC Jacob Zuma.

A província de Gauteng, que inclui a potência económica do país, Joanesburgo, e a capital executiva sul-africana, Pretória, também registou uma queda importante do ANC.

Funcionários da Comissão Eleitoral Independente (CEI) durante a contagem de votos na assembleia de Itereleng, em Pretória, a 29 de maio de 2024
Contagem de votos em PretóriaFoto: Phill Magakoe/AFP/Getty Images

Críticas a Jacob Zuma

O presidente nacional do ANC, Gwede Mantashe, disse à DW que o antigo Presidente Jacob Zumaé o principal culpado pelas perdas do ANC. "Jacob Zuma levou uma grande parte do ANC. E os resultados estão a refletir esta divisão", frisou.

No final do ano passado, Jacob Zuma formou o partido MK, alegando que o ANC havia trazido muito sofrimento para o povo negro da África do Sul - embora muitos dos oponentes de Zuma argumentem que a população do país sofreu mais sob sua presidência, de 2009 a 2018.

O analista político Lesiba Teffo acredita que, de facto, muitos eleitores rejeitaram o ANC independentemente do seu líder. Considera que o partido no poder desde o fim do apartheid, em 1994, não cumpriu muitas das suas promessas e caiu num buraco de corrupção e clientelismo.

"Os membros  [do ANC] permitiram a entrada de demasiadas pessoas erradas. Não seguiram os conselhos quando foram aconselhados e não actuaram quando a lei exigia que actuassem contra certas pessoas. Eles são os culpados pelo seu próprio fracasso."

Teffo disse também que muitos eleitores foram para outros partidos políticos por causa do aumento da pobreza e do desemprego, além dos constantes cortes de eletricidade. Mas o facto é que este pleito traz uma mudança no cenário político sul-africano.

A Aliança Democrática (DA), durante anos o maior partido da oposição do país, ficou em segundo lugar nas eleições, com quase 22% dos votos nacionais. O que representa uma melhoria de um ponto relativamente aos cerca de 20% obtidos nas eleições anteriores.

O partido MK de Zuma, entretanto, foi o maior vencedor. Com apenas seis meses de existência, e participando pela primeira vez em eleições, ficou em terceiro lugar, com cerca de 14%, à frente do partido de extrema-esquerda Combatentes da Liberdade Económica (EFF), que ficou em quarto lugar com apenas 9,5%, um ponto abaixo de 2019.

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Quem serão os parceiros de coligação?

O facto de o ANC não ter chegado aos 50,1% necessários para formar governo, deixou o partido sem outra opção senão procurar parceiros de coligação.

"Teremos de falar com vários partidos.Temos uma série deles disponíveis, mas não decidimos nenhum. Podemos trabalhar com qualquer partido que esteja de acordo connosco; qualquer partido que esteja de acordo com os nossos princípios", disse o presidente nacional do ANC, Gwede Mantashe.

Por sua vez, o maior partido da oposição na África do Sul, a Aliança Democrática, nomeou uma equipa de negociação para dialogar com outros partidos políticos com o objetivo de formar uma coligação maioritária, anunciou o seu líder no domingo (02.06).

John Steenhuisen, numa intervenção transmitida no YouTube, disse que a Aliança Democrática pretende evitar uma "coligação catastrófica" entre o Congresso Nacional Africano (ANC), os radicais de esquerda Combatentes da Liberdade Económica ou o uMkhonto we Sizwe do ex-Presidente Jacob Zuma.

A Comissão Eleitoral Independente defendeu a transparência e credibilidade das eleições de quarta-feira na África do Sul, na sequência de 579 queixas de vários partidos políticos por alegadas irregularidades na contagem dos votos.