Rapper angolano MCK impedido de viajar para o Brasil
24 de novembro de 2015O conhecido rapper angolano, MCK, preparava-se para viajar para o Brasil quando, esta manhã, foi impedido de embarcar num avião da TAAG ( Transportes Aéreos de Angola) pelas autoridades do Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro, em Luanda. O artista é uma das atrações de um festival de música chamado “Terra do Rap”, que vai decorrer no Rio de Janeiro no dia 26 de novembro.
O músico conta que se deslocou ao Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro logo pelas primeiras horas da manhã de hoje com o passaporte, visto de entrada no Brasil e bilhete em dia, depois de ter feito o check-in no dia anterior.
Para o seu espanto, o autor do tema “O País do Pai Banana”, acrescenta que o seu passaporte foi retido pelos Serviços de Migração e Estrangeiros por alegadas “ordens superiores. Eu era uma das atrações principais num festival que vai homenagear um rapper, então, fui ao aeroporto por volta das 09 horas e o oficial dos Serviços de Migração Estrangeiros disse que eu estava impedido de viajar porque no meu passaporte havia uma informação de retenção. Então pensei que fosse uma situação qualquer (menos grave) que fosse logo resolvida. Passada meia hora disseram que o meu passaporte seria retido até à descolagem do avião”, relata o cantor à DW África.
O músico diz ainda não entender a posição dos serviços de Migração. Uma vez que não existe nenhuma justificação jurídico-legal para o seu impedimento. “Há custos envolvidos, há um cachet e uma passagem paga, enfim, é um conjunto de expetativas e atividades para fazer no Brasil e de repente, assim sem nenhuma justificação” o cantor é impedido de sair do país. “O passaporte, o bilhete e o visto estão em dia”, garante o rapper.
A DW África tentou o contacto com os Serviços de Migração e Estrangeiros em Luanda a fim de obter esclarecimentos mas não obteve resposta.
Entretanto, MCK ameaça apresentar uma ação judicial caso os danos provocados não sejam reparados pois é de opinião que os cidadãos não devem estar presos no seu espaço sem que nenhum crime seja cometido. “Vou entregar às autoridades judiciais uma queixa porque precisamos saber qual é a motivação, se é pessoal e familiar porque as pessoas viajam por várias razões. Eu estava a viajar a título profissional mas amanhã posso viajar a título pessoal. As pessoas não podem estar presas no seu próprio território nacional”.
O autor das técnicas, causas e consequências, nos primeiros anos de 2000, desconfia que se trate de uma perseguição politica. “Todos os ativistas cívicos em Angola são perseguidos politicamente e este ato é uma demonstração de perseguição politica. Não há outra justificação jurídico-legal que justifique o impedimento a um cidadão que tenha as condições todas reunidas para viajar”.
“Liberdade já”
Licenciado em Direito, o produtor e promotor MCK é também fonte de inspiração para muitos músicos da sua geração. O jovem músico tem tido uma voz ativa contra alguns setores do regime com as suas letras críticas. O cantor condena a “longa permanência no poder de alguns dirigentes africanos” e tem apelado inúmeras vezes para uma melhor “distribuição da riqueza” em Angola.
MCK tem também demonstrado o seu apoio em relação aos jovens do processo 15+2 acusados de tentativa de rebelião. Num concerto em Lisboa (01.09.2015), o rapper juntou-se a outros artistas num apelo à liberdade destes jovens.