Raúl Tati: João Lourenço "ignora" o problema de Cabinda
7 de novembro de 2019A terceira jornada política do secretariado do Bureau Político do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) está a decorrer na província de Cabinda, com o objetivo de avaliar a situação política, económica e social da província.
Apesar de ser a província que produz grande parte do petróleo de Angola, Cabinda continua a registar conflitos políticos e sociais. E não é com "marketing e cartazes do MPLA" que se resolvem os problemas em Cabinda, afirma em entrevista à DW África Raúl Tati, deputado independente apoiado pela bancada parlamentar da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA).
"A população tem fome e precisa de medicamentos", lembra Tati, que é natural do enclave. O deputado também critica o Presidente angolano, João Lourenço, que acusa de estar "simplesmente a ignorar o problema de Cabinda".
DW África: Sob a presidência de João Lourenço, será que o MPLA, o partido no poder em Angola, adotou uma política mais conciliadora e dialogante?
Raúl Tati (RT): Infelizmente, a presidência de João Lourenço é mesmo uma presidência que não vai de encontro aos problemas de Cabinda. Até devo dizer que o Presidente José Eduardo dos Santos talvez tenha sido um pouco mais pró-ativo nesse sentido, pois embora não tivesse acertado nas estratégias para a solução do problema de Cabinda e o conflito que ainda está aqui vigente, pelo menos admitia que havia um problema e em várias entrevistas, em vários momentos, foi, de facto, falando dessa questão do problema de Cabinda. Inclusivamente, tentou usar estratégias para a solução do problema, que não deram certo. Agora, o Presidente João Lourenço o que está a fazer simplesmente é ignorar esse problema, tentando tapar o sol com a peneira. Para nós continua a ser uma desilusão o MPLA. Tudo aquilo que se podia esperar que o MPLA fizesse para melhorar as coisas em Cabinda, não conseguiu fazer.
DW África: O que é que os moradores de Cabinda podem ganhar com esta reunião do Bureau Político do MPLA, que conta com os mais destacados membros do partido, a começar pela vice-presidente, Luísa Damião?
RT: Não conheço bem qual é a agenda desta reunião em Cabinda, mas já se começa a dizer que vão visitar certas obras, certas infraestruturas que estão em construção. São sempre as mesmas visitas, que não resolvem absolutamente nada.
DW África: E nota-se a presença do MPLA? Há muitos cartazes do MPLA nas ruas?
RT: Está tudo cheio de cartazes, com a cara do Presidente João Lourenço. Mas é claro que a população ignora isso. Isso não diz absolutamente nada à população local. A população não vai comer cartazes, não vai comer bandeirolas. A população tem fome, precisa de medicamentos, de assistência médica, precisa de tudo aquilo que é básico para se ter uma vida condigna. Isso é que é fundamental, não são esses cartazes, não é esse marketing todo que estão a fazer do MPLA que vai resolver os problemas.
DW África: Se bem entendi, não foram corrigidos nenhuns erros do passado? O MPLA continua a não fazer um mea culpa?
RT: Nem o erro mais colossal foi corrigido, nem sequer os mais pequenos. Portanto, continuamos na mesma.