RDC: Aumenta a tensão entre apoiantes de Kabila e Tshisekedi
2 de janeiro de 2012A instabilidade política e a tensão social na República Democrática do Congo (RDC) não param de aumentar duas semanas após a proclamação dos resultados definitivos da eleição presidencial na República Democrática do Congo, realizada em 28 de novembro.
O Presidente Joseph Kabila foi reeleito e proclamado vencedor pela Comissão Eleitoral Nacional Independente (CENI) na disputa contra o seu opositor Etienne Tshisekedi, tendo sido oficialmente empossado no dia 20 de dezembro.
Tshisekedi que se recusa a aceitar os resultados eleitorais, auto-proclamou-se Presidente da República, no dia 23 de dezembro, na sua residência, em Kinshasa.
O principal partido da oposição UDPS – União para a Democracia e o Progresso Social – contesta os resultados e denunciou o "bloqueio à residência" do seu líder Etienne Tshisekedi, atualmente cercada por um aparatoso dispositivo de segurança.
Prisão domiciliária
“Constatamos a presença de homens fardados e armados que patrulham o bairro onde habita o presidente Tshisekedi. A avenida que conduz à residência de Tshisekedi também está inacessível a qualquer pessoa. É preciso que a situação seja clarificada”, disse Jacquemain Chabani, Secretário geral da UDPS para quem o líder do partido, “na prática”, está em “prisão domiciliária”.
O vice-primeiro ministro e ministro do Interior da RDC, Adolphe Lumanu, contra argumentou que o dispositivo de segurança atualmente em curso “é tanto do interesse da ordem pública como da própria oposição, incluindo o senhor Tshisekedi.”
“A medida – acrescentou – fazia parte de um determinado contexto que entretanto evoluiu. Depois de avaliarmos a situação chegámos à conclusão que não havia motivo para mantermos esse dispositivo de segurança como anteriormente.”
A tensão provocada na RDC pela contestada eleição do presidente Joseph Kabila foi, de certa forma contida, pelas autoridades que entretanto decidiram proibir a realização de manifestações por parte dos militantes e apoiantes de Tshisekedi.
Porém, o clima de crise interna acentuou-se ainda mais nos últimos dias devido à não publicação, até ao momento, do resultado das eleições legislativas, realizadas simultaneamente com as presidenciais, em 28 de novembro.
A 21 de dezembro, a CENI anunciou a suspensão da publicação dos resultados parciais daquele ato eleitoral, com o argumento de que pretende aguardar a chegada ao país de uma equipa de especialistas americanos e britânicos encarregada de garantir a transparência do processo.
Irregularidades eleitorais descrebilizam RDC
Em Kinshasa, território politicamente dominado pelas forças afetas a Kabila, circulam rumores sobre a gradual deterioração do clima social a medida que cresce a determinação dos apoiantes de Tshisedeki de não reconhecerem legitimidade eleitoral ao Presidente reeleito.
Os resultados parciais até agora divulgados cobrem apenas 40 dos 169 centros de contagem do país. A oposição em bloco afirma que o processo eleitoral do Congo democrático perdeu toda credibilidade, bem como a própria Comissão eleitoral nacional independente (CENI).
Recorde-se que a comunidade internacional criticou alegadas irregularidades que terão ocorrido no escrutínio presidencial e, em sinal de protesto, não se fez representar na cerimónia oficial de investidura do Presidente Joseph Kabila. O controverso Robert Mugabe, Presidente do Zimbabué foi o único estadista estrangeiro presente na cerimónia.
Processo nebuloso
Face ao aviso da União Europeia, que entretanto anunciou pretender reavaliar a sua ajuda à RDC face às irregularidades eleitorais detetadas, a CENI decidiu aceitar a ajuda técnica de especialistas estrangeiros.
Porém, observadores internacionais classificam de “nebuloso” o processo que determinou o número e os termos do mandato que regula o trabalho daqueles especialistas.
Os resultados das eleições legislativas congolesas poderão ser anunciados oficialmente no dia 13 de janeiro caso até lá a CENI e os especialistas estrangeiros consigam dar conta das inúmeras tarefas que ainda têm que ser executadas.
Os 500 assentos parlamentares em disputa nas eleições congolesas foram disputados por 19 mil candidatos.
Autor: António Rocha
Edicao: Pedro Varanda de Castro/Nádia Issufo