RDC: Organizações pedem retirada da MONUSCO
22 de setembro de 2022O Secretário Geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres, admitiu que o grupo rebelde M23 estava mais bem armado do que a MONUSCO, a missão dos capacetes azuis na República Democrática do Congo (RDC). Palavras que reacenderam o debate sobre a saída desta missão do país, que continua a ser uma das mais caras do mundo. Mas a falta de uma alternativa real à sua retirada deixa muitas questões em aberto, especialmente a um ano da próxima eleição presidencial.
Rose Tuombeane é uma ativista de direitos humanos, que vive em Butembo. Há um ano, com outras mulheres, foi à capital congolesa para encontrar-se duas vezes com o Presidente Félix Tshisekedi por causa da situação na sua região. Hoje, Rose Tuombeane diz estar preocupada com as declarações do secretário-geral das Nações Unidas, e insiste na retirada imediata da MONUSCO que, segundo ela, demonstrou a sua incapacidade em pacificar o leste do seu país.
"Quando fazemos as nossas investigações no terreno, sabemos que não é apenas uma questão do M23. Sabemos que tudo o que acontece em Ituri, em Beni, é devido aos mesmos atores - quer dizer: o Ruanda. Sabemos como demonstrá-lo graças aos relatórios que publicámos", diz.
"As Nações Unidas fazerem tal declaração é uma brincadeira, seguida da demonstração da sua incapacidade e da sua inutilidade. Pedimos que a MONUSCO seja autorizada a sair sem condições. Deveríamos tentar acelerar o processo de retirada. 2024 é muito longe", lamenta.
MONUSCO já iniciou retirada
Mas a MONUSCO já iniciou a sua retirada da RDC. Em 2014, a missão foi reduzida no país. Em 2018, oito escritórios foram encerrados e recentemente a missão retirou-se de duas províncias: Kasaï em 2021 e Tanganyika há dois meses. A Ucrânia também chamou recentemente os seus soldados lá destacados.
"A MONUSCO está presente atualmente apenas em três províncias: Kivu do Norte, Kivu do Sul e Ituri, onde os grupos armados ainda estão ativos", esclarece Ndeye Khady Lo, porta-voz interino da MONUSCO. "Há um ano, Bintou Keita, representante especial do Secretário-Geral da RDC, co-assinou um plano de transição com o primeiro-ministro Sama Lukondé. Este documento foi elaborado em conjunto com o governo congolês e contém marcos a serem alcançados para permitir que a missão se retire de forma responsável, ordenada e sustentável", acrescentou.
Para o cientista político Jean Claude Mputu, a única alternativa à missão é que a RDC e os seus líderes assumam a sua responsabilidade e forneçam os meios necessários.
"Diria que há três coisas que devem constituir uma alternativa. A primeira é ao nível político, a segunda é que o exército congolês deve ser dotado de meios suficientes e, finalmente, é absolutamente necessário acabar com a impunidade que reina nesta região e dentro das Forças Armadas", frisa.
Entretanto, de acordo com vários meios de comunicação congoleses, um alto oficial do exército, comandante das operações militares contra o grupo rebelde M23 no leste do país, foi detido e preso por suspeita de traição à pátria.