RDC: Presidente Tshisekedi é "peão político" de Kabila?
27 de agosto de 2019"Temos finalmente um Governo. O Presidente assinou o decreto e começaremos a trabalhar em breve", afirmou o primeiro-ministro Sylvestre Ilunga Ilunkamba na segunda-feira de manhã (26.08).
Mais de sete meses depois da tomada de posse do Presidente Félix Tshisekedi, é conhecida a composição do novo Executivo.
A Frente Comum pelo Congo (FCC), do ex-chefe de Estado Joseph Kabila, conta com 42 dos 65 membros do Governo congolês, ficando, por exemplo, com as pastas da Defesa e da Justiça. Para o partido do atual Presidente, Mudança de Rumo (CACH), sobraram apenas 23 lugares.
Tshisekedi tem vindo a ser apontado pelos críticos como um peão político do ex-Presidente Joseph Kabila.
Para Benno Müchler, da Fundação alemã Konrad Adenauer em Kinshasa, a composição do novo Executivo já era de prever "depois do difícil processo para formar uma coligação no Parlamento, onde Kabila continua a ter a maioria".
O ex-Presidente continua a "desempenhar um papel importante na política quotidiana", sublinha Müchler.
"Por um lado, ele é o presidente da aliança FCC, que tem a maioria absoluta no Parlamento. Por outro lado, também é um senador vitalício por ter sido Presidente. E em 2023, de acordo com a Constituição, poderá candidatar-se novamente", afirma.
Caras novas e antigas
Mais de 70% dos membros deste Governo nunca exerceu cargos ministeriais, o que, frisou o primeiro-ministro Ilunga Ilunkamba, é uma "inovação importante" para o país.
No entanto, entre os restantes 30% há pessoas muito próximas do antigo chefe de Estado, incluindo Azarias Ruberwa, indicado para o Ministério da Descentralização, e Thomas Luhaka, que assume o cargo de ministro do Ensino Superior.
"Restabelecemos algumas caras velhas neste Governo. Estas pessoas não cumprem os critérios de seleção estabelecidos pelo próprio primeiro-ministro", comenta Jean Claude Katende, presidente da Associação Africana dos Direitos Humanos.
"Nós, na sociedade civil congolesa, apelamos ao Governo para que cumpra a sua missão em conformidade com a Constituição e defenda os interesses do povo congolês", afirma.
Mulheres com fraca representação
O reduzido número de mulheres no Executivo também está a ser criticado pelos grupos da sociedade civil, ainda que tenha sido atribuída a uma mulher a importante pasta dos Negócios Estrangeiros.
"Entristeceu-me um pouco", diz a ativista pró-democracia congolesa Léonie Kandolo. "Mas, de alguma forma, é melhor do que antes. Como se costuma dizer, passo a passo... Esperamos que as coisas melhorem com o tempo."
Para já, entre a população congolesa, parece haver esperança: "O nosso novo Governo é composto por 13 mulheres e, acima de tudo, há muitas caras novas. Desejamos as maiores felicidades aos novos ministros", disse uma residente de Kinshasa em entrevista à DW.
Benno Müchler, da Fundação Konrad Adenauer, nota ainda que nenhuma das 14 personalidades que fazem parte da lista de sanções da União Europeia integra o novo Executivo.