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Realpolitik versus direitos humanos: visita da chanceler a África suscita críticas

11 de julho de 2011

Quénia, Angola e Nigéria foram os eleitos pela chanceler Angela Merkel para abrir novas portas aos interesses económicos germânicos. Os críticos afirmam que os direitos humanos pesam menos na balança do que o petróleo.

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Em 2009, José Eduardo dos Santos, visitou Berlim. A chanceler Angela Merkel retribui agora a visitaFoto: DW / Cascais

“Aparentemente a Alemanha não aprendeu nada com o derrube dos ditadores no Norte de África." Foram estas as palavras escolhidas pela “Gesellschaft für bedrohte Völker”, Sociedade para os Povos Ameaçados, para classificar o périplo africano da chanceler Angela Merkel.

“É tão inconsequente como hipócrita, se observarmos que, por um lado se festeja o derrube de ditadores no Norte de África e, por outro, se aposta em novas parcerias com os companheiros destes[ditadores] no Sul do continente", salienta Ulrich Delius, da secção para África desta organização de defesa dos direitos humanos alemã .

Para Delius o Presidente angolano José Eduardo dos Santos "é um dos mais brutais ditadores africanos" e a sua administração assemelha-se à do ex-líder tunisino Ben Ali. " Pergunto-me onde está o fio condutor na política externa e na política para África da Alemanha".

des Afrika-Konzepts der Bundesregierung spricht Außenminister Guido Westerwelle (FDP) am Mittwoch (15.06.2011) im Auswärtigen Amt in Berlin zu den Gästen. Mit dem Afrika-Konzept sollen die Grundlinien und Ziele der künftigen deutschen Afrika-Politik zusammengefasst werden. Deutschland verspricht den bislang 53 afrikanischen Staaten eine "Partnerschaft auf Augenhöhe". Foto: Rainer Jensen dpa
O ministro dos Negócios Estrangeiros germânico, Guido Westerwelle, durante a apresentação, a 15.06.2011, do "Conceito para África" do Governo de BerlimFoto: picture alliance/dpa

O novo "Conceito para África"

Em Junho, Berlim promulgou o seu novo "Conceito para África". O capítulo do documento sobre "valores universais e interesses alemães” começa da seguinte forma: "os direitos humanos universais vigoram em todo o mundo e respeitá-los é um compromisso obrigatório por lei, tanto para a Alemanha como para os estados africanos". Um pouco mais à frente no documento escreve-se que "os nossos parceiros em África são em primeiro lugar aqueles que partilham estes valores.”

Protestos em Cabinda "ignorados"

O desrespeito angolano por valores centrais é uma das críticas da Sociedade para os Povos Ameaçados à intenção de Angela Merkel de estreitar as relações com Angola. Até 2012 Angola quer tornar-se no maior produtor de petróleo africano.

A organização lembra que grande parte do petróleo angolano é explorado no enclave de Cabinda, onde há anos, os cerca de 400 mil habitantes protestam contra as consequências ecológicas da presença das empresas petrolíferas na região.

Öl in Angola Öltanker
Uma plataforma petrolífera ao largo de CabindaFoto: AP

Estes protestos, diz a Sociedade para os Povos Ameaçados, são abafados tal como o são organizações ou indivíduos que denunciam violações dos direitos humanos. Exemplos disso,são a organização Mpalabanda, proibida em 2006, e três padres católicos que lutavam pela paz e os direitos humanos em Cabinda e foram afastados do país, depois de o Governo angolano se impor junto do Vaticano. "Se se defendessem os direitos humanos, a democracia e os Estados de direito em África de forma verdadeiramente consequente, agora teria de se dizer não a uma parceria no setor energético com um regime destes”, frisa Ulrich Delius.

"Confunde-se estabilidade com Estado de direito"

"Esta viagem tem pouco a ver com direitos humanos, mas somente com interesses económicos", critica Delius. Para este analista encorre-se aqui no erro de confundir "estabilidade com Estado de direito e uma ordem democrática estável". Em Angola a estabilidade é conseguida à custa "da mobilização da polícia secreta, do exército e da polícia".

Autor: Marta Barroso/Helena Ferro de Gouveia
Edição: António Rocha