Recenseamento na Guiné-Bissau a passo de caracol
17 de dezembro de 2013Dezassete dias após o início do recenseamento eleitoral, não se sabe ao certo quantas pessoas foram registadas até agora. Números não oficiais apontam cerca de 18 mil num universo potencial de 800 mil.
Os eleitores e dirigentes partidários começam a dar mostras de impaciência e de um certo desespero. As equipas de recenseamento ainda não chegaram a muitas zonas do país, apesar de algumas delas já estarem no terreno desde o dia 1 de dezembro.
A situação é de facto preocupante e complicada, até mesmo na capital. Nalguns bairros de Bissau, ainda não foi recenseado um único eleitor, apesar da vontade popular de participar no processo.
“Levaram a mesa até perto de minha casa, ficaram lá um dia e na minha rua só se conseguiu recensear uma pessoa”, contou uma eleitora à DW África. “As pessoas que estão a fazer o recenseamento e que estão a manusear as máquinas demonstram alguma incompetência relativamente ao trabalho que estão a fazer”, criticou.
“Ainda não consegui encontrar brigadas de recenseamento”, desabafou outro eleitor, acrescentando que “está a ser muito difícil e complicado encontrar um local para fazer o recenseamento.”
Lentidão gera críticas
Para poderem votar nas eleições de 16 de março de 2014, todos os eleitores deveriam, no entanto, ter sido recenseados. A lentidão do processo em curso tem vindo a ser denunciada por populares e, mesmo, pela classe política, como é o caso de Vicente Fernandes.
O líder do Partido da Convergência Democrática (PCD) espera que os responsáveis pela condução do processo eleitoral “tenham em mente aquilo que foi uma das razões justificativas para muitos deles apoiarem o golpe de Estado, dizendo na altura que não tinham sido atualizados os cadernos eleitorais.”
Vicente Fernandes lembra que estas palavras saíram da boca de “muitos dirigentes que hoje estão à frente do processo de recenseamento”. Por isso, espera que “hoje essas pessoas tenham a consciência de não repetir os erros do passado só porque agora estão no poder.”
Advogado de profissão, Vicente Fernandes diz ainda que são muitas as irregularidades constadas no terreno. “Tem-se visto alguma estratégia maliciosa que se traduz em potenciar um menor número de recenseamentos nas zonas onde eles têm maior propensão do eleitorado” critica o líder do PCD. Denuncia ainda que “alguns dirigentes de alguns partidos levam listas prévias de prévias, de manhã, de pessoas que dizem ser militantes e dão preferência a estas pessoas” no recenseamento”.
Faltam “kits” e campanha cívica
A ausência designadamente de um número significativo de “kits” móveis de recenseamento bem como dificuldades na sua utilização, e ainda questionamentos sobre a falta de uma campanha de educação cívica no intuito de sensibilizar a população, têm sido alguns dos problemas apontados nestes 17 dias de um recenseamento previsto para terminar a 21 deste mês.
Segundo Aissatu Baldé, coordenadora do movimento feminino, as mulheres também enfrentam dificuldades neste processo, fruto da ausência de uma campanha de sensibilização.
O Governo pede, por um lado, calma às populações e, por outro, apela à comunidade internacional para que desbloqueie fundos para que o processo tenha êxito, reafirma o chefe do executivo, Rui Duarte de Barros.
Recentemente, o presidente do Partido da Renovação Social (PRS), Alberto Nambeia, primeira força da oposição, afirmou que a manter-se o ritmo atual provavelmente só daqui a quatro meses é que o processo estaria concluído.