Regresso de Carlos Gomes Júnior gera diversas reações na Guiné-Bissau
13 de agosto de 2013
Carlos Gomes Júnior pode regressar à Guiné-Bissau quando entender, afirma o porta-voz do governo de transição.
Fernando Vaz considera que o regresso é “uma decisão pessoal” do primeiro-ministro deposto no golpe de Estado de 12 de abril de 2012 e que desde essa época se encontra em Portugal.
No entanto, o porta-voz do executivo afasta a ideia de garantir segurança especial a Carlos Gomes Júnior: “nós estamos aqui para cumprir a lei, nós garantimos, como já dissemos várias vezes, a segurança como o Estado garante a qualquer cidadão. O senhor Carlos Gomes Júnior não é nenhum cidadão que está em cima de um pedestal, não é nenhuma estrela, é um cidadão igual a todos os outros cidadãos nacionais. É-lhe garantida a mesma segurança que é garantida a todos os cidadãos”.
“Cadogo”, como é conhecido no seu país, afirmou recentemente (08.08), em Lisboa, que pretende regressar à Guiné-Bissau e candidatar-se às eleições presidenciais, agendadas para 24 de novembro. Na mesma conferência de imprensa, o político mostrou-se otimista ao estimar que ganharia o pleito com 80% dos votos.
Reagindo às palavras de Gomes Júnior, Fernando Vaz, porta-voz do governo de transição, diz que se trata de “um mau pronúncio”. “As coisas devem ser transparentes, não deve haver ganhadores antecipados”, acrescenta Vaz.
O porta-voz do executivo de Bissau lança ainda outra crítica: “a comunidade internacional não devia estar calada, devia pronunciar-se nesta altura. A comunidade internacional está a fazer aquilo que sempre fez: cala a boca até haver problemas para depois interferir. Se há uma pessoa que sabe que vai ganhar antecipadamente com 80% dos votos, não vale a pena irmos a eleições”, ironiza.
Regresso de “Cadogo” é tema quente em Bissau
O regresso de Carlos Gomes Júnior à Guiné-Bissau tem sido tema de destaque na imprensa nacional. Vários intervenientes políticos aconselham o primeiro-ministro deposto a abdicar da corrida às presidenciais e a pensar seriamente na sua segurança.
De lembrar que a Guiné-Bissau ainda mantém a mesma estrutura militar que deteve Gomes Júnior na capital, durante vários dias, após o golpe de Estado.
Na altura, os militares interromperam o processo eleitoral. Carlos Gomes Júnior ocupava ainda o cargo de primeiro-ministro e candidatava-se à segunda volta das eleições presidenciais. Após ter ganho o primeiro turno, era apontado como favorito à Presidência.
Um dos políticos que aconselha "Cadogo" a abanonar a próxima corrida eleitoral, de 24 de novembro, é Agnelo Regala, do partido União para a Mudança (UM): “se tivessemos em conta a conjuntura que se vive no país e as implicações de uma candidatura que pudesse pôr em causa, de novo, a estabilidade, a segurança do cidadão, nós, em nome de um patriotismo que nos é próprio, talvez ponderássemos abdicar da candidatura para garantir a estabilidade. Não por cobardia mas por uma questão de bom senso” concluiu.
O PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde), partido que Gomes Júnior liderava até um dia antes do início da campanha eleitoral para a segunda volta das presidenciais de 2012, ainda não reagiu às declarações de “Cadogo”. O assunto está em análise no seio daquela força política.
Mas Rui Diã de Sousa, líder da bancada parlamentar do partido que fez a luta armada contra o colonialismo português, diz que Carlos Gomes será bem-vindo. Rui Diã de Sousa considera que a intenção do primeiro-ministro deposto “é normal". "Ele é livre de dizer o que acha, tem liberdade de opinião, liberdade de pensamento”, comenta.
Já o porta-voz do Estado-Maior General das Forças Armadas, Dahaba Na Walna, abstem-se de comentários, justificando que não é momento oportuno.
Preparação das eleições de novembro
Neste momento, os partidos políticos estão a discutir as leis do Recenseamento Eleitoral, ainda sem data para arrancar.
Pelo que, Agnelo Regala, da UM, duvida que a data prevista para o escrutínio, de 24 de novembro, venha a ser cumprida.
Por sua vez, o Governo garante que já tinha alertado à comunidade internacional para o curto espaço de tempo para a organização das eleições.
Na segunda-feira (12.08), os deputados aprovaram a nova versão da Lei do Recenseamento. A lei prevê que o novo modelo do cartão de eleitor passa a ter a fotografia do titular para além de incluir a respetiva data de nascimento, profissão e um código de segurança (que está a ser ainda analisado).
A nova lei deverá ser submetida à apreciação dos deputados numa sessão parlamentar a ser convocada brevemente.
Até aqui, o recenseamento dos eleitores da Guiné-Bissau tem sido feito de forma manual, sem os dados agora exigidos, o que segundo vários partidos políticos facilitava a fraude.