Relatório SIPRI: Negócio de armas rende cada vez mais
12 de março de 2024A invasão russa à Ucrânia e a guerra em curso contribuiram para um aumento drástico das importações de novas armas por parte dos países da Europa. Nesta equação, a indústria de armas norte-americana é a que mais benefíciou com o negócio, segundo reza o mais recente estudo do Instituto Internacional de Investigação para a Paz de Estocolmo (SIPRI).
De acordo com o estudo a quantidade de armas importadas pelos países europeus praticamente duplicou entre 2019 e 2023.
Estados Unidos: De longe os maiores exportadores
A mesma pesquisa aponta que as exportações globais de armas dos Estados Unidos registaram um aumento na ordem dos 17% entre 2019 e 2023. As armas vendidas pelos EUA foram para 107 diferentes países.
Mathew George, diretor do Programa de Transferência de Armas do SIPRI, esclarece: "Os EUA aumentaram o seu papel global como fornecedores de armas - um aspeto importante da sua política externa - exportando mais armas para mais países do que alguma vez o fizeram no passado. Isto acontece numa altura em que o domínio económico e geopolítico dos EUA está a ser desafiado pelas potências emergentes."
Os cinco maiores exportadores de armas a nível mundial são, pois, os Estados Unidos, seguidos da França, da Rússia, da China e da Alemanha.
França exporta mais armas que a Rússia
A França ultrapassou, pois, a Rússia e está em segundo lugar. A Rússia viu as suas exportações de armas a caírem para 53% no período em análise. Enquanto isso, as vendas francesas aumentaram 47%.
Em 2019, 31 países recebiam armas da Rússia. Em 2023, esse número caiu para 12, sendo a Índia e a China os maiores clientes.
À DW, Pieter Wezeman, um dos autores do estudo, explica as razões da queda das exportações de armas russas: "Os EUA e os países europeus também exerceram pressão sobre os países que compravam armas russas anteriormente ou que estavam a pensar fazê-lo".
Para o caso do crescimento da indústria francesa, Wezeman diz que Paris está a seguir uma política de "soberania estratégica": "Basicamente, a França quer ser capaz de aplicar a força militar sempre que quiser, sem estar dependente de armas de terceiros."
A indústria de armamento francesa tem sido muito bem sucedida nos últimos 10 anos, disse Wezeman, sendo os aviões de combate Rafale, bem como os submarinos e as fragatas, os mais vendidos.
Guerra da Ucrânia muda comércio mundial de armas
Não é de admirar que, entre os países europeus, a Ucrânia tenha aumentado drasticamente as suas importações de armas. Se no período de 2014 a 2018 o país ainda era um importador pequeno - em parte porque produzia muitas armas e, portanto, não dependia muito de importações - no período de 2019 a 2023 (a guerra de agressão russa começou em 2022), a Ucrânia tornou-se o quarto maior importador do mundo, depois da Índia, da Arábia Saudita e do Catar. Um aumento de cerca de 6.600%.
No entanto, o termo "importador" é um tanto enganoso, pois as entregas para a Ucrânia são, sobretudo, doações de equipamentos de defesa, e não vendas.
Os principais fornecedores de armas para a Ucrânia no período de 2019 a 2023 foram os EUA, com uma participação de 39%, seguidos pela Alemanha (14%) e pela Polônia (13%).
África importa menos armas
Enquanto a Europa quase duplicou as suas importações de armas, as de países africanos caíram para a metade. Em todas as outras regiões do mundo, houve apenas pequenas mudanças. O declínio em África deve-se principalmente a importações significativamente mais baixas nos dois países importadores mais importantes: a Argélia importou menos 77% de armamento e Marrocos diminuiu as suas importações em 46%.
A Alemanha é o quinto exportador mundial de armas. O Médio Oriente é o seu principal mercado de exportação de armas.
De 2019 a 2023, as exportações alemãs caíram 14%. Mas para Pieter Wezeman este declínio foi relativo. Para suportar a sua tese, o especialista diz que entre 2014 e 2018, Berlim vendeu um número "muito significativo" de submarinos.