RENAMO "de braços abertos" para membros da Junta Militar
13 de outubro de 2021O secretário-geral da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), André Magibire, disse esta terça-feira (12.10), na cidade da Beira, que a RENAMO está pronta para para acolher os colegas que no passado decidiram abandonar o partido e criar o seu próprio movimento. A garantia do dirigente da RENAMO surge dias depois da morte do líder da autoproclamada Junta Militar da RENAMO, Mariano Nhongo, em combate com as forças de segurança moçambicanas.
Magibire assegurou que ninguém será maltratado, dando como exemplo os cerca de 60 ex-membros do grupo dissidente que aderiram ao processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR).
"Nós estamos de braços abertos para receber todos", afirmou o secretário-geral da RENAMO. "Nós estamos a falar de reconciliação nacional. Se queremos reconciliação nacional, somos obrigados a ter espírito de perdão para com os colegas. Àqueles que quiserem abraçar a RENAMO, as portas estão abertas. Ninguém correu com ninguém, da mesma maneira que saíram, voltem. Vão-se juntar aos outros e vão trabalhar", explicou.
Uma vez que o grupo ficou sem líder, na sequência da morte de Mariano Nhongo, o secretário-geral da RENAMO advertiu ser urgente para quem de direito, apelar aos demais integrantes para voltarem à razão. "O que nós vamos fazer como a RENAMO é continuar a apelar a qualquer que seja o combatente proveniente de Nhongo para ser desmobilizado", disse Magibire. "Nós estamos de braços abertos, fica difícil ir buscar [os ex-guerrilheiros] onde não sabemos. Venham, ninguém vai ser preso, ninguém vai ser chamboqueado, vão ser desmobilizados, vão para as casas, têm material de construção, tudo aquilo de que os outros beneficiaram, eles também vão beneficiar".
"Governo precisa de se despir da arrogância"
Por sua vez, o Movimento Democrático de Moçambique (MDM) diz que é necessário que os moçambicanos se reencontrem e desenhem o futuro do país sem o uso da força. "Há necessidade de os moçambicanos se reencontrarem e criarem uma mesa em que vão discutir as diferenças e não recorrermos ao uso da força para suprirmos aquilo que é a diferença", explica Sande Carmona, porta-voz do terceiro maior partido moçambicano.
Carmona relembra que, mesmo no passado, não bastou o uso da força para a busca da paz: "Em 1979, quando morreu André Matsangaíssa, pensou-se que a Resistência Nacional Moçambicana tinha acabado, mas surgiu um outro que ficou comandante em chefe da resistência que foi Afonso Dhlakama e deu continuidade aos propósitos que norteavam Matsangaíssa". Mais recentemente, continua, "o país perdeu Afonso Dhlakama e pensou-se que era o fim das hostilidades em Moçambique. Mas surgiu outro que criou a Junta Militar e começou uma nova guerra. Ontem, Moçambique perdeu Nhongo, pode aqui haver uma possibilidade de, se não formos inteligentes, surgir um outro líder que vai comandar essa junta ou uma outra coisa", alerta.
No entender do MDM, o principal ator neste processo de busca da paz deve ser o Governo liderado pelo Presidente Filipe Nyusi, que é também o comandante em chefe das Forças de Defesa e Segurança. Sande Carmona pede ao Governo "que abra espaços, que crie condições para que os moçambicanos tenham uma mesa para se encontrarem e discutirem os problemas do país".
Na visão do porta-voz do MDM, "o Governo do dia precisa de se despir da arrogância e começar a olhar o país como uno, como moçambicanos que temos os mesmos direitos, como moçambicanos que temos as mesmas obrigações. Enquanto o Governo continuar a dirigir o país como se fosse uma quinta, teremos sempre problemas".